No passado domingo, Donald Trump fez comentários racistas acerca de quatro mulheres congressistas, dizendo-lhes, através de mensagens na sua conta pessoal da rede social Twitter, para voltarem para os seus países, apesar de todas serem cidadãs dos Estados Unidos, já que tanto criticavam a política norte-americana para com a imigração.
Apesar de não ter dito os nomes das mulheres em causa, as mensagens referiam-se muito provavelmente, devido às críticas por parte de quem é frequentemente alvo, a Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova Iorque, Ilhan Omar, do Minnesota, Ayanna Pressley, de Massachusetts, e Rashida Tlaib, do Michigan. Apenas Omar, da Somália, nasceu fora dos Estados Unidos.
Perante a polémica das suas declarações, com figuras do próprio Partido Republicano a criticarem as expressões do Presidente, Donald Trump voltou hoje ao tema, na sua conta pessoal da rede social Twitter, para dizer que os comentários não foram racistas, apelando aos Republicanos para não mostrarem fraqueza no combate contra os Democratas.
“Esses ‘tweets’ não eram racistas. Eu não tenho um osso racista no meu corpo!”, escreveu Donald Trump na sua conta pessoal do Twitter.
“Os Republicanos não devem mostrar ‘fraqueza’ e cair na armadilha”, explicou Trump, referindo-se ao facto de alguns dirigentes do seu partido estarem a dar razão aos Democratas, nas críticas aos comentários.
Nos dias seguintes aos comentários, o Partido Republicano dividiu-se entre os que criticaram os comentários e os que tentaram explicar a intenção da Casa Branca.
Segunda-feira, as quatro congressistas deram uma conferência de Imprensa, para denunciar a “agenda de brancos nacionalistas” de Donald Trump, dizendo que estava na altura de travar “este Presidente que goza” com a Constituição, desafiando os Republicanos a definirem a sua posição sobre este tema.
O Republicano Michael Turner, membro da Câmara dos Representantes pelo Estado do Ohio, escreveu segunda-feira, no Twitter, que as mensagens do Presidente foram “racistas e ele devia pedir desculpa”, sendo acompanhado por algumas outras figuras do Partido que apoia Trump.
Mesmo o senador Mitt Romney — um dos poucos Republicanos que criticaram Trump durante a sua presidência — disse a uma estação televisiva que, embora o Presidente tenha sido “muito duro”, considera que “alguns dos novos membros do Congresso têm opiniões que não são consistentes” com a sua experiência dos Estados Unidos.
Numa outra atitude, o senador Republicano Patrick Toomey, do Estado da Pennsylvania, na sua conta de Twitter, disse que estava em total desacordo com as perspetivas das congressistas Democratas sobre “imigração, socialismo, segurança nacional”, mas considera que elas têm “direito à sua opinião, por muito errada que seja”, mostrando discordância com a reação de Donald Trump.
As mensagens de Twitter de Trump contra as quatro congressistas tiveram ainda o efeito de unir os Democratas à volta destas, depois de várias semanas em que elas tinham sido acusadas de “radicalismo” por parte dos setores mais conservadores do seu partido.
Nancy Pelosi, líder da maioria Democrata na Câmara dos Representantes, tinha sido uma das vozes que se distanciara das congressistas mais progressistas, nas suas posições mais radicais sobre imigração, mas perante o ataque de Donald Trump, foi uma das primeiras figuras do partido a vir em socorro da sua posição.
A líder Democrata disse mesmo que o Congresso não pode aceitar esta forma de o Presidente tratar os seus membros, anunciando que apresentará uma resolução na Câmara dos Representantes para “oficialmente rejeitar o sentimento” da Casa Branca.
Contudo, alguns estrategos do Partido Democrata alertam para os riscos de uma reação muito forte perante a posição do Presidente, explicando que a visibilidade dada a este caso poderá reforçar a posição de Donald Trump perante a sua base de apoio eleitoral.
Cornell Belcher, um estratego Democrata, disse a uma estação televisiva que este caso ajudará Trump a trazer a campanha eleitoral para as presidenciais de 2020, onde ele concorrerá para a reeleição, para o seu terreno favorito.
“O eleitorado já sabe que ele é racista e, naturalmente, há que condenar isso. Mas de um ponto de vista estratégico, o que ganhamos em nos deixarmos empurrar para o campo de batalha onde ele quer combater?”, interrogava-se Belcher.
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