Num debate sobre a segunda revisão ao programa de ajustamento à Grécia, mas que ficou marcado pela polémica em torno da entrevista de Dijsselbloem ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, na qual defendeu que não se pode pedir ajuda depois de gastar o dinheiro em álcool e mulheres, Paulo Rangel (PSD), Pedro Silva Pereira (PS) e João Ferreira (PCP) dirigiram-se ao presidente do Eurogrupo para lhe dizer que não tem condições para continuar no cargo.
“Se ninguém foi capaz de o fazer na reunião do Eurogrupo (de 07 de abril, em Malta), eu aqui, no Parlamento Europeu, digo-lhe cara a acara e olhos nos olhos, que nós não nos satisfazemos com um simples pedidos de desculpas. O senhor presidente do Eurogrupo não tem condições para continuar como presidente do Eurogrupo, porque depois de fazer as declarações que fez mostra que tem um preconceito”, declarou Paulo Rangel.
O líder da delegação do PSD ao Parlamento Europeu questionou Dijsselbloem “como é pode estar aqui a falar sobre a Grécia quando tem um preconceito relativamente ao povo grego, ao povo cipriota, ao povo português, que fizeram os maiores sacrifícios, e que o fizeram com governos curiosamente do PPE, quando foram os governos socialistas, da sua família politica, que destruíram as nossas contas públicas”.
“Acha que pessoas que tiveram imensos sacrifícios, que tiveram que abdicar dos seus salários, das suas pensões, são pessoas que gastam o dinheiro em copos e mulheres? É essa a sua conceção? Como é que alguém com esta mentalidade tem autoridade e legitimidade para vir aplicar programas e dar soluções, para a Grécia como é o caso de hoje, ou para Portugal ou para Chipre ou para outros países?”, questionou.
“Senhor Dijsselbloem, aqui, numa instância que representa os povos europeus, digo-lhe: só tem uma saída, é demitir-se e demitir-se o quanto antes”, concluiu.
Por seu turno, Pedro Silva Pereira, do PS, disse a Dijsselbloem que “as explicações que veio dar a este parlamento sobre as suas inaceitáveis declarações sobre os países do sul chegam tarde, não apagam a gravidade dos seus insultos e não lhe devolvem nem a credibilidade nem as condições politicas para prolongar o seu mandato como presidente do Eurogrupo”.
Por fim, João Ferreira, do PCP, declarou que se “houvesse da parte das instituições da União Europeia um pingo de respeito pelos povos dos países que o senhor ofendeu e pelas mulheres europeias, e o senhor já não ocuparia esse lugar” enquanto presidente do fórum de ministros das Finanças da zona euro.
“Mostrar-lhe a porta da rua, como lhe fizeram os eleitores do seu país, seria, para não ir mais longe, um ato de elementar bom senso e civilidade. Mas o facto de ainda se sentar aí diz muito do estado miserável a que tudo isto chegou. Pior do que as suas deploráveis declarações é o que elas traduzem de uma realidade, a da zona euro, em que países e povos inteiros são submetidos a relações permanentes de dominação e subjugação, que constrangem e impedem o seu desenvolvimento soberano”, sustentou o eurodeputado comunista.
“Senhor Dijsselbloem, apesar de ainda ocupar essa cadeira, não se iluda: aquilo que representa não tem futuro”, concluiu.
O presidente do Eurogrupo, que na sua intervenção inicial reiterou que as suas declarações foram mal interpretadas e que nunca pretendeu ofender os países do sul da Europa, assegurando que a última coisa que quer é criar divisões na zona euro, apontou na intervenção final que aceita as críticas que ouviu durante o debate, dos eurodeputados portugueses e não só, já que ao longo de mais de uma hora foram muitos os que deploraram as declarações do ministro holandês.
“A escolha das palavras foi infeliz, as pessoas ofenderam-se e eu lamento isso, mas o conteúdo permanece válido”, disse, reiterando que todos devem respeitar aquilo com que se comprometeram.
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