Primeiro Nuno Melo, mais duro e incisivo no discurso, e depois Assunção Cristas recusaram a hipótese, que o PS e António Costa dizem admitir, de abandonar a regra da unanimidade na política fiscal na União Europeia, repetindo argumentos já usados no debate quinzenal com o primeiro-ministro, no parlamento.
“Não abrimos mão do nosso direito de veto” e “não aceitamos que outros ponham impostos nas nossas costas”, afirmou Cristas, no encerramento da convenção europeia do partido, hoje à tarde, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
E tentando traçar diferenças para os socialistas, afirmou que se "o PS reclama a defesa da Europa em Portugal", então "o CDS reclama a defesa de Portugal na Europa".
O eurodeputado Nuno Melo, que volta a ser cabeça-de-lista do CDS nas eleições de maio, também recusou “mais impostos”, sejam eles europeus ou nacionais, declarando, pelos centristas: “Estamos cansados dos impostos”.
E avisou, já em tom de comício, que, por ele, “esta capacidade soberana do Estado”, de aprovar impostos, “não está à venda em Bruxelas”, e ironizou: “Qualquer dia, respiramos impostos”.
Nuno Melo respondeu ainda aos argumentos de Costa, segundo os quais esta tributação, sobre grandes empresas da área digital, a ser criada, não teria repercussões no contribuinte português, dado que esse é dinheiro que não é pago nos países nem na União Europeia.
O eurodeputado centrista socorreu-se de uma frase de Margaret Thatcher, a ex-primeiro-ministra britânica, para dizer que, “em impostos não adianta dizer que é outra pessoa que os vai pagar”.
Essas empresas, argumentou, irão sempre repercutir “quem compra”, aos clientes.
Apontando a Costa e à política europeia do Governo, Melo acusou-o de aceitar acabar com a regra da unanimidade na questão fiscal, e deu um exemplo: “Se 16 países lançarem impostos sobre Portugal, para o dr. António Costa é normal, não vai dizer não”.
No seu discurso, de quase 50 minutos, Nuno Melo definiu os seus adversários: o PS, a abstenção e as esquerdas.
Ao “aparentemente candidato” do PS às europeias, o ministro do Planeamento, Pedro Marques, rotulou-o de “ministro do desinvestimento”, associando-o também ao Governo de José Sócrates e ao “grupo de pessoas que levou o país à falência” e estão hoje no executivo de António Costa.
“Foi ministro dos PEC até à bancarrota final e hoje é o ministro do desinvestimento”, afirmou, ironizando com os resultados que atribui ao executivo: “Portugal está melhor, não investe, cativa”.
Tal como Cristas fez minutos mais tarde, Nuno Melo fez um apelo à participação nas eleições de maio, e respondeu ao incómodo, como definiu, do PSD e de Paulo Rangel, o cabeça de lista social-democrata às europeias, e traçou uma diferença.
Garantiu que um voto no seu partido, seja nas europeias como nas legislativas, em outubro, nunca “servirá para validar este governo socialista”.
O CDS, exemplificou, “não se sentaria à mesa” com o Governo, como fez o PSD liderado por Rui Rio, por exemplo, sobre a descentralização que parece agora que as “autarquias até não querem”.
E, continuando a criticar indiretamente o PSD e Rui Rio, elogiou a liderança de Assunção Cristas à frente dos centristas para afirmar: "Se não fosse o CDS, a oposição em Portugal seria poucochinha".
As eleições europeias realizam-se, em Portugal, em 26 de maio.
Em 2009, também com Nuno Melo como cabeça de lista, o CDS-PP elegeu dois eurodeputados, com 8,37% dos votos.
Cinco anos depois, em 2014, o CDS-PP concorreu em coligação com o PSD, que obteve 27,71% dos votos, sete deputados e apenas um dos centristas, Nuno Melo.
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