"Independentemente de sabermos que a abstenção ia ser elevada [...] arriscamo-nos a ter uma abstenção técnica porque não estão criadas as condições mínimas para a larga maioria dos portugueses que residem no estrangeiro exercerem o seu direito de voto", disse.

As eleições europeias de domingo são as primeiras que se realizarão após aprovação do recenseamento automático para os emigrantes, o que alargou o universo eleitoral de pouco mais de 300 mil eleitores para mais de 1,4 milhões.

Nesse sentido, Carlos Gonçalves, que representa no Parlamento os residentes na Europa, admitiu que a taxa de abstenção na emigração venha a inflacionar a abstenção em Portugal e manifestou "grande receio" de que a emigração fique associada "a uma taxa de abstenção elevadíssima".

"Temo as interpretações que normalmente se fazem nestes momentos no sentido de que é dado aos emigrantes o direito de votar e não votam, não se interessam, quando há razões técnicas evidentes que vão certamente justificar essa abstenção", considerou.

"Houve uma tentativa de alargar o recenseamento eleitoral e depois não estão criadas as condições mínimas para que as pessoas possam exercer o direito de voto", acrescentou.

O deputado assegura que a oferta de mesas de voto em países de forte emigração é inferior à disponibilizada em eleições anteriores, apesar das garantias do Governo de que o número de locais de voto cresceu 20% em relação às europeias de 2014.

Carlos Gonçalves dá como exemplos França, Alemanha, Bélgica e Austrália.

"Em França temos cerca de 400 mil eleitores e a oferta diminuiu claramente. Alguém acredita que uma pessoa que vive em Brest, a 800 quilómetros de Paris, vá votar", questionou.

Apontou, por outro lado, a inexistência de mesas de voto em cidades com fortes comunidades portuguesas como Nantes, Lille, Rouen (França); Munique, Frankfurt, Nuremberga (Alemanha), Liège (Bélgica), Bilbau (Espanha) ou Melbourne (Austrália).

"Onde há comunidades até parece que foram os sítios escolhidos em grande parte para que não haja a oferta que tinha havido até aqui. É incompreensível”, reforçou.

Para o deputado social-democrata, a associação do voto por correio ao voto presencial, proposta pelo PSD e chumbada no Parlamento, "teria permitido evitar este tipo de situação".

Para Carlos Gonçalves, o Governo falhou na promessa de que todos teriam condições para votar, considerando "uma missão difícil" apelar à participação eleitoral dos emigrantes quando há "eleitores a centenas e milhares de quilómetros das mesas de voto" e "muitos portugueses" a residir em países onde não existem mesas de voto.

"Foi possível alargar de forma substancial o número de recenseados, mas depois na prática não lhes é dada a possibilidade de exercer o direito de voto", sublinhou.

Os mais de 1,4 milhões de eleitores emigrantes vão votar em 156 locais, em 70 países, com o Governo a admitir que não foi possível "criar no estrangeiro uma resposta tão próxima e qualificada” como a que existe em território nacional.

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