“Agora, é tempo de usar o direito à minha defesa”, escreve Fernando Lima num depoimento divulgado à Lusa pela editora do livro “Na sombra da Presidência – Relato de 10 anos em Belém” (Porto Editora).
O ex-diretor do DN e ex-jornalista do JN, no mesmo depoimento, assume que se manteve em silêncio devido às funções que ocupava na Casa Civil e admite que este caso afetou a sua relação com Cavaco Silva.
“Ainda hoje, não compreendo que [Cavaco Silva] tenha tido comigo comportamentos que considero inexplicáveis, depois de termos convivido ininterruptamente, desde que comecei a trabalhar com ele em 1986. Confesso que não o esperava. (…) Agora, é tempo de usar o direito à minha defesa”, lê-se ainda no depoimento de Lima, que foi assessor e adjunto de cavaco Silva quando este foi primeiro-ministro (1986-1995) e Presidente da República (2006-2016).
O ”caso das escutas” data de agosto de 2009, quando o jornal Público fez manchete com suspeitas da Presidência da República de estar a ser "vigiada" pelo Governo. Em setembro, o DN revelou que quem "encomendou" a notícia foi Fernando Lima, que depois deixou a assessoria da comunicação social e passou para a Casa Civil da Presidência.
Após sete anos de silêncio – apenas quebrado por um artigo sobre o caso no semanário Expresso, em 2010 – Fernando Lima explica a polémica, em 2009, com o “caso das escutas” com “um processo político que pretendia, naquela altura, desqualificar a Presidência da República e o seu titular”.
“A Presidência era o único poder que não se deixara submeter à lógica de quem governava em 2009 [o PS de José Sócrates], pelo que era necessário desgastá-la para que, perante os portugueses, fosse perdendo prestígio e autoridade. Surgiram situações da vida pessoal do Presidente, como o BPN e a casa no Algarve, que o marcaram para sempre”, argumenta Fernando Lima.
Olhando para o passado, o antigo assessor de Cavaco afirma que nunca falou em escutas à Presidência, “mas sim em vigilância”.
“A minha desconfiança de que Belém estava sob vigilância não era diferente da manifestada publicamente por outras entidades que se consideravam visadas pelos mesmos procedimentos”, acrescenta.
Os responsáveis por esta vigilância eram, então, “um mistério, mas só um poder bem organizado é que teria capacidade para fazer o que motivava tantas queixas”, escreveu ainda, revelando que se viu envolvido “em situações que ultrapassaram” a sua imaginação.
Mesmo depois de deixar a assessoria de comunicação social, Lima afirma que continuou “a ser alvo”, com “situações estranhas" que promete descrever no livro, e “só pararam quando o Governo de José Sócrates foi substituído”.
No livro, Fernando Lima revisita dez anos no Palácio de Belém e alguns casos que marcaram as notícias, como o caso BPN, o negócio PT/TVI, o referendo do Tratado de Lisboa ou a polémica em torno do TGV.
O ex-assessor aborda também comportamentos do chefe do Estado que foram polémicos.
“As reações que mais penalizaram Cavaco Silva tiveram a ver com atitudes incompreensíveis, que se transformaram, depois, em casos políticos”, escreveu Fernando Lima, dando como exemplo a queixa do valor da sua pensão, segundo uma sinopse fornecida pela editora.
O livro “Na sombra da Presidência” chega às bancas a 8 de setembro.
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