Johnson, líder da campanha que quer tirar o Reino Unido da União Europeia e encarado como um possível sucessor de David Cameron, venceu o concurso com um poema sobre "um jovem de Ancara (...) que semeou a sua aveia selvagem, com a ajuda de uma cabra, mas nem sequer parou para agradecer-lhe", diz o texto. A criação de Johnson faz referência a uma poesia criada pelo humorista alemão Jan Boehmermann, que apresenta o islamista Erdogan como um zoófilo, que mantinha relações sexuais com cabras e ovelhas. O caso pode levar Boehmermann à prisão.

A revista Spectator convocou o concurso, que tem um prémio de 1 000 libras (1 306 euros). "Se alguém quer fazer uma brincadeira sobre o amor que nasce entre o presidente turco e uma cabra, deve poder fazê-la, em qualquer país europeu, incluindo a Turquia", disse Johnson à revista suíça Die Weltwoche. O político classificou como "escândalo" o caso do humorista alemão, que pode acabar sentado no banco dos réus devido a uma lei alemã raramente aplicada que pune com três anos de prisão os que insultam dignitários de países estrangeiros.

Em abril, a chanceler alemã Angela Merkel autorizou uma ação penal da Turquia contra o humorista, que leu na TV o seu duro poema satírico sobre o presidente turco. O caso envenenou as relações entre a Alemanha e a Turquia, parceira estratégica da Europa na atual crise migratória. O processo baseou-se no delito previsto no artigo 103 do código penal, que castiga os insultos com penas até três anos. Este artigo só pode ser aplicado com a aprovação do governo federal alemão.

Ao mesmo tempo, Merkel anunciou a intenção de suprimir a lei em questão com uma reforma legislativa que entrará em vigor em 2018. Já prevendo possíveis críticas, a chanceler ressaltou que a autorização para recorrer ao artigo 103 não significava que o humorista é culpado, nem que ultrapassou os limites legais da liberdade de expressão. "Num Estado de direito, a justiça é independente (...) está em vigor a presunção de inocência", assegurou. "Autorizar um procedimento penal por este delito em particular (...) não é uma condenação a priori das pessoas envolvidas nem uma decisão sobre as liberdades na arte, imprensa e opinião", afirmou, insistindo que "os tribunais terão a última palavra". O próprio comediante explicou que estava ciente de que sua sátira ia além dos limites da liberdade de expressão permitidos na Alemanha. O objetivo, disse, era demonstrar por meio do absurdo até que ponto o governo turco estava errado ao criticá-lo por um outro texto, uma canção transmitida duas semanas antes, em que criticava a deriva autoritária na Turquia.