“Nunca, na história da nossa democracia, se assistira a um passa-culpas deste nível”, lamentou o ex-governante, que é também professor catedrático de Matemática, a propósito de declarações hoje divulgadas do secretário de Estado da Educação, João Costa.
Nuno Crato considerou que “depois de quase uma década de melhorias contínuas que nos levaram, em 2015, aos melhores resultados internacionais de sempre, tanto no PISA como no TIMSS, esta é uma descida que exige ser muito seriamente analisada”.
“É lamentável que essa análise seja evitada e substituída por acusações irresponsáveis e falsas por parte desta equipa ministerial”, afirma Nuno Crato, numa declaração enviada à Lusa.
O TIMMS - Trends in International Mathematics and Science Study, hoje divulgado, mostra que os alunos pioraram o seu desempenho a Matemática, tendo descido de 541 pontos nas provas de 2015 para 525 pontos (numa escala de 1 a 1000).
Segundo Luís Pereira dos Santos, presidente do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), esta descida a Matemática é “estatisticamente significativa”.
João Costa atribuiu hoje os maus resultados obtidos na disciplina às políticas educativas do antigo ministro da Educação Nuno Crato.
Em seu entender, houve mudanças feitas pela equipa de Nuno Crato que geraram “maiores dificuldades na aprendizagem”.
“Houve uma grande antecipação de conteúdos nas metas, alguns dos itens que eram ensinados no 5.º ano passaram para o 3.º ano, por exemplo”, referiu, sublinhando que esta mudança feita durante o mandato de Nuno Crato “gerou maiores dificuldades na aprendizagem”.
Numa reação às declarações de João Costa, o ex-ministro da Educação Nuno Crato considerou que “é esta equipa que tem conduzido desde 2016 a educação em Portugal e que deveria refletir sobre as suas responsabilidades”.
Para Nuno Crato, “a reversão do progresso comprovado em 2015 é, certamente, resultado de uma série de medidas entretanto adotadas. A avaliação externa no 4.º ano, que vinha desde 2001 com provas de aferição e depois com provas finais em 2014, foi abolida e não foi substituída por nenhuma forma de avaliação externa. A obrigatoriedade de mais horas em Matemática e em Português e da frequência do apoio ao estudo também foi eliminada”.
“As metas curriculares, que estavam em vigor em 2015 e pelas quais foram preparados os alunos então avaliados, não sofreram alterações até hoje. O que mudou foi a avaliação, ou a falta dela, e foi a ‘flexibilidade curricular’ e a natureza vaga das ‘aprendizagens essenciais’ que aboliram as prioridades curriculares e geraram um discurso e prática de menor ambição, menosprezando as metas e reduzindo em muito o seu impacto positivo”, considera.
Em 2015, “os estudantes do 4.º que nos encheram de orgulho tinham feito todo o seu percurso escolar entre 2011 e 2015, numa cultura de exigência, de avaliação e de valorização do conhecimento. Os alunos avaliados pelo TIMSS em 2019 não tiveram esse percurso. É sobre isto que é preciso tirar lições”, sublinhou.
O ex-ministro da Educação disse ainda ter ficado “profundamente preocupado com a descida significativa a Matemática dos alunos de 4.º ano, nas avaliações do TIMSS de 2019. Não só com a descida, como também com o perverso aumento das desigualdades revelado”.
Segundo o TIMMS, os alunos do 4.º ano pioraram nas três áreas em análise a Matemática.
Numa comparação entre as suas capacidades para “Conhecer”, “Aplicar” e “Raciocinar”, nota-se que os alunos pioraram nas três áreas, sendo que aquela onde mais pioraram foi na dimensão de “Conhecer”.
Em declarações aos jornalistas, o secretário de Estado da Educação disse que o ensino da Matemática nas escolas está a ser alvo de uma revisão e prevê-se mudanças que serão implementadas de forma gradual.
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