Perante o coletivo de juízes do Tribunal São João Novo, no Porto, Alexander Pereira explicou que simulou o furto do cartão bancário a um colega para ser expulso da Força Aérea porque já não suportava mais ser praxado e, assim, evitar o pagamento de uma indemnização a que estaria sujeito no caso de cessação do contrato por sua iniciativa.

Este é um dos dois antigos soldados que terá, alegadamente, sido alvo de praxes violentas por 10 ex-militares da Força Aérea entre 2018 e 2019 na Base Aérea N.º5 - Monte Real, em Leiria.

Depois do furto, Alexander Pereira explicou que foi levantar dinheiro numa caixa multibanco daquela Base Aérea para ser apanhado pelas câmaras.

“Um mês depois fui expulso, graças a Deus”, disse.

Questionado sobre o porquê de não ter abandonado a Força Aérea se não gostava de lá estar, Alexander Pereira salientou que “depois do que sofreu não estava disposto a dar dinheiro à Força Aérea para se vir embora”.

O ex-soldado revelou que durante os cerca de oito meses em que esteve naquela Base Aérea foi praxado violentamente todos os dias e que nunca contou nada a ninguém porque acreditava que a praxe ia acabar.

“Mas, não acabou. De serviço ou de folga obrigavam-me sempre a fazer coisas”, salientou.

Entre “as coisas que lhe mandavam fazer” estavam, descreveu, comer ração de cão e beber água das gamelas daqueles animais, limpar a sala de convívio, beber álcool, apanhar dejetos de animais com preservativos e estar numa gaiola de transporte de cães, colocada na viatura de serviço, enquanto andavam às voltas com ele.

Alexander Pereira, que relatou ter estado acordado mais de 72 horas, contou ainda que lhe colocaram a coleira de um cão e o obrigaram a ficar debaixo de uma secretária, apontaram-lhe uma arma à cabeça e mostraram-lhe o genital.

Neste processo estão em causa factos praticados, entre maio de 2018 e setembro de 2019, por 10 ex-militares (praças), com a especialidade de Polícia Aérea colocados, à data, na secção Cinófila e nas Equipas de Intervenção, integrando a Esquadra de Proteção e Segurança – EPA.

Os dois ex-soldados, atualmente com 27 anos, e os arguidos, com idades entre os 28 e os 35 anos, abandonaram entretanto a Força Aérea.

A acusação conta que os 10 ex-militares “de forma reiterada, em conjugação de esforços e na execução de plano previamente delineado”, executaram aquilo a que chamaram “processo de integração/ensinamento”.

Os arguidos consideravam que os dois antigos soldados “apresentavam um nível de desempenho abaixo do padrão”, motivo pelo qual entendiam que os mesmos “deviam ser sujeitos a integração por forma a aperfeiçoar ou assimilar os procedimentos de serviços diários”.