A tecnologia utilizada consiste num novo “descontaminante gasoso baseado em nanopartículas”, desenvolvido e patenteado por uma `start-up´ nascida na incubadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Delox, que estava a ser testado no decorrer de um outro projeto militar de “descontaminação de agentes de bioterrorismo”, já há um ano e meio.
No final do período de testes, a equipa comprovou um alto nível de eficácia do novo agente e pensou que podia utilizá-lo para ajudar ao combate à pandemia de covid-19, disse à Lusa o major veterinário Wilson Antunes, investigador principal, a prestar serviço na Unidade Militar Laboratorial de Defesa Biológica e Química do Exército.
Em parceria com a Delox e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a equipa concorreu ao programa especial da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FTC) para apoiar soluções no combate à covid-19, propondo-se criar um protótipo de uma “câmara de descontaminação transportável”, que possa ser colocada em ambiente hospitalar e nos centros de saúde e descontaminar máscaras para posterior reutilização.
Durante a pesquisa de literatura científica, a equipa deparou-se com um estudo realizado nos EUA, de 2016, que já validava a eficácia do peróxido de hidrogénio gasoso como descontaminante de máscaras respiratórias.
Com o estudo como ponto de partida, Wilson Antunes explicou que “o produto desenvolvido pela Delox é ainda mais eficaz, porque a nova tecnologia reduz a microcondensação”, ao conjugar o agente descontaminante com nanopartículas.
Com esta “descontaminação a seco”, mantém-se a integridade das máscaras respiratórias, permitindo a sua reutilização com total segurança, defendeu Wilson Antunes.
Nos testes já realizados — e cujos bons resultados motivaram a equipa a avançar para esta nova aplicação — a equipa trabalhou com “esporos bacterianos, os microrganismos mais resistentes da natureza, que sobrevivem até à radiação espacial”, explicou o investigador.
“Usámos os esporos bacterianos como agente modelo da descontaminação e como estamos no espectro mais resistente, se destruímos este microrganismo, matamos todos os outros”, sublinhou.
A equipa irá criar um “isolador”, ou seja, uma “caixa estanque, transportável, integrada com o sistema de descontaminação e de ventilação que vai permitir a remoção também do agente descontaminante”, adiantou.
O contrato entre a FTC e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que lidera o consórcio criado para pôr o projeto em prática, vai ser assinado no próximo dia 27, e tem a duração de dois meses, no valor de 29.500 euros, disse o major veterinário Wilson Antunes.
O militar destacou ainda que o fator ambiental foi determinante na decisão de avançar com o projeto: “Nestes meses de pandemia, os consumos em plástico dispararam, em fabrico de equipamentos de proteção individual, sejam máscaras, viseiras e fatos”, materiais de usar e deitar fora, aumentando também a produção de resíduos.
Se a “descontaminação a seco” resultar como os investigadores esperam e for possível a comercialização do produto, “reduz-se a pegada ecológica” do combate à pandemia de covid-19, frisou.
O consórcio foi promovido pelo Laboratório de Defesa Biológica da Unidade Militar Laboratorial de Defesa Biológica e Química, com o apoio do IAPMEI [Agência para a Competitividade e Inovação] e o Hospital das Forças Armadas, onde será testado o protótipo, na fase final do projeto.
A equipa, que integra ainda o Centro de Investigação da Academia Militar, a Delox, a empresa Fardas 3B, e o Instituto Dom Luiz, da Universidade de Lisboa, “detém todas as valências necessárias para a síntese do descontaminante, desenho, produção e testagem dos protótipos à escala laboratorial e operacional”, adiantou o Exército.
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