Cientistas anunciaram na quinta-feira, 8 de agosto, ter identificado as moléculas responsáveis pela biofluorescência destes predadores marinhos, tendo indícios de que este brilho possa cumprir outras funções, como combater infeções microbianas.

A investigação foi publicada na revista iScience e aponta para um produto desconhecido do metabolismo de uma determinada molécula como causador do brilho nos tubarões.

"É muito diferente de todas as outras formas de biofluorescência marinha", como a que se encontra em medusas e corais, disse à AFP o coautor do estudo David Gruber, professor da City University de Nova Iorque.

"Esta é uma pequena molécula, ao invés de uma proteína, e mostra que, no oceano, os animais estão a desenvolver de forma independente a sua aptidão para absorver luz azul e transformá-la noutras cores".

A investigação concentrou-se em duas espécies, o tubarão-inchado (Cephaloscyllium ventriosum) e o cação-cadeia (Scyliorhinus retifer), que Gruber estudou em expedições de mergulho em Scripps Canyon, um desfiladeiro submarino em frente à costa de San Diego.

Tanto o tubarão-inchado como o cação-cadeia são mais tímidos que os tubarões-brancos ou tubarões-tigre. "Têm cerca de um metro de comprimento, ficam no fundo, são muito envergonhados e não são nada bons nadadores", disse Gruber.

Onde vivem, a 30 metros de profundidade ou mais, só a luz do extremo azul do espectro consegue chegar, e por isso se mordessem alguma presa, o sangue ao invés de vermelho pareceria preto como tinta.

'Superpoderes fascinantes' 

Gruber e o seu colega, Jason Crawford, da Universidade de Yale, notaram que a pele dos tubarões tinha dois tons, um claro e outro escuro, e depois de estudá-la quimicamente, descobriram uma molécula que só estava presente nas porções de tonalidade clara e que é capaz de absorver luz azul e emiti-la na cor verde.

A configuração dos olhos destes tubarões torna-os especialmente sensíveis à luz no ponto de contacto entre o azul e o verde, razão pela qual percebem um alto contraste entre a fluorescência do seu corpo ou a dos seus pares e do que os rodeia. "Têm uma visão do mundo completamente diferente", explicou Crawford.

Uma das possíveis interpretações da utilidade destas marcas é que ajudam a diferenciar o sexo ou inclusive a identificá-los individualmente. Mas não fica por aqui: alguns dos metabólitos encontrados na pele dos tubarões eliminaram bactérias em laboratório, o que sugere que poderiam ter também um efeito antimicrobiano.

Durante as suas expedições submarinas, Gruber descobriu que os tubarões estavam sempre em pares ou até em cardumes com dez indivíduos, o que significa que são animais gregários.

Para Gruber, as descobertas recentes relacionadas aos tubarões colocam em evidência o pouco que se conhece sobre estes animais, que se estima que existam há 400 milhões de anos.

"Não temos um entendimento sólido sobre a biologia dos tubarões. E são simplesmente criaturas assombrosas, com todo o tipo de superpoderes fascinantes, com um sentido incrível de olfato até as ampolas de Lorenzini [órgãos sensoriais], que lhes permitem sentir a eletricidade" e detetar a pulsação de presas ocultas na areia.

Sobre esta última descoberta do brilho verde, Gruber diz: "estes tubarões estão logo ali, perto do cais de San Diego, e no entanto, só agora descobrimos este mistério".