O apagão de segunda-feira ocorreu numa altura em que a produção renovável estava em alta, o que motivou que alguns lhe atribuíssem a causa, contudo não há nenhuma prova que assim tenha sido. E no caso de ter sido essa a origem o investigador Alexandre Matias Correia lembra que embora a "política viva de emoções" há soluções no mercado para evitar essa sobrecarga.
Segundo a REN – Redes Energéticas Nacionais –, o apagão teve origem numa perda súbita de geração elétrica, sabe-se que a origem foi em Espanha estando aí o país a investigar as causas com todas as hipóteses em cima da mesa. Em apenas cinco segundos, cerca de 15 gigawatts de produção elétrica foram desligados, representando aproximadamente 60% da produção espanhola naquele momento.
Este desequilíbrio abrupto levou a uma queda na frequência da rede elétrica, desencadeando desligamentos automáticos em cascata para proteger o sistema.
O especialista em redes energéticas exorta a atuação dos técnicos portugueses e a forma célere com que tudo se resolveu. Lembrando, por oposição, o apagão do Texas em fevereiro de 2021 foi provocado por uma combinação extrema de fatores meteorológicos e estruturais. Uma vaga de frio polar sem precedentes fez com que as temperaturas caíssem drasticamente, provocando um aumento súbito da procura de eletricidade, sobretudo para aquecimento. Ao mesmo tempo, muitas centrais elétricas — incluindo a gás natural, carvão, nuclear e até eólicas — falharam devido ao congelamento de equipamentos e infraestruturas, o que reduziu drasticamente a oferta. Como o Texas opera uma rede elétrica isolada (ERCOT), com pouca interligação com outros estados, não conseguiu importar energia suficiente para compensar. O resultado foi um colapso parcial da rede, deixando milhões de pessoas sem eletricidade por vários dias e provocando centenas de mortes indiretas.
Neste episódio discutiu-se ainda o papel das diferentes fontes de energia e a forma como essas entram na rede. Alexandre Matias Correia distrinça dois conceitos fundamentais para compreender uma das dúvidas mais levantadas nos últimos dias, porque é que mesmo com energia fotovoltaica em casa houve quem fosse vítima do apagão.
Para responder a isso importa conhecer o conceito de grid forming, unidades capazes de formar uma rede elétrica, criando a frequência e a tensão necessárias ao seu funcionamento; e o de grid following, unidades que apenas seguem a rede existente, sem capacidade de a estabilizar de forma autónoma. A distinção entre estas duas abordagens ajuda a perceber por que motivo, mesmo com abundância de energia, pode haver falhas se essa energia não for controlada da forma certa.
Falamos ainda de uma inovação desenvolvida pelo investigador na Universidade de Coimbra e que teve a sua prova de fogo durante o apagão. Um sistema baseado em volantes de inércia (conhecidos como flying wheels), capaz de garantir até 72 horas de fornecimento de energia mesmo em caso de apagão total. Esta tecnologia pode representa um avanço significativo para um sistema elétrico mais resiliente e adaptado às exigências da transição energética.
Alexandre Matias Correia é investigador na área da engenharia eletrotécnica, com foco em sistemas de energia e redes elétricas inteligentes. Tem colaborado com várias instituições de investigação em projetos ligados à integração de renováveis, ao armazenamento de energia e à estabilidade da rede elétrica, sendo autor de diversos estudos e publicações sobre estes temas.
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