Estátuas, capulanas, cerâmica, quadros, instrumentos musicais, fotografias, instrumentos de caça e muitas outras peças da História africana compõem esta mostra intitulada “Contar Áfricas!”, e que tem como ponto de partida um “exercício científico-museológico” cujo desafio é “contar África e não a visão que de África tiveram os portugueses”, afirmou António Camões Gouveia, coordenador da exposição.

“Escolhemos a palavra ‘contar’, porque ‘dizer’ era muito impositivo, e ‘Áfricas’ para forçar um título que mostrasse que estamos à procura de plurais, conjuntos onde se distinguem apontamentos”, explicou, numa apresentação à comunicação social, ocorrida na passada quinta-feira.

O objetivo é “chamar a atenção sobre África”, um mundo “muito desconhecido e complexo” que tem formas de organização social e política, religiosa e simbólica, muito próprias, como, por exemplo, o peso das mulheres em determinadas culturas, a música, as línguas, ou até mesmo os reinos e os impérios que tinham, em alguns casos com moeda própria.

“Tentámos encontrar uma maneira de dizer que África tem diferenças e que, se calhar, temos que rever a totalidade de África”, acrescentou.

Para isso, o Padrão dos Descobrimentos, convidou 72 investigadores que estudam, há muitos anos, África, nas suas mais variadas vertentes, para escolherem peças e palavras e com elas desenhar um percurso para conhecer essa África diversa e múltipla.

Destes, obteve 41 respostas positivas de investigadores em áreas tão diversas como música, etnografia, antropologia ou literatura africanas, que escolheram peças emblemáticas, de natureza e proveniência muitíssimo variadas.

Participaram ainda a associação de professores de Geografia, a associação de professores de História e a associação de afrodescendentes.

Cada peça escolhida conta uma história e convida a uma análise e reflexão por parte de quem a escolhe: as peças e as razões por que os investigadores as escolheriam são a base do desenho da narrativa museológica, de um circuito que é aberto.

Assim, cada um escolheu uma peça e uma palavra que associassem a essa peça – com a respetiva explicação -, explicou António Camões Gouveia, apontando, a título de exemplo, duas tapeçarias semelhantes, com a mesma forma de tecelagem, motivos e cores muito parecidos.

A primeira, originária de Cabo Verde, é acompanhada pela palavra “duração”, a segunda, originária da Guiné Bissau, chama-se “sabedoria” e, uma ao lado da outra, contam uma história: aquelas tapeçarias começaram a ser feitas em Cabo Verde há muitos anos e o fluxo de movimento de pessoas entre esses dois países permitiu levar este conhecimento e esta prática para a Guiné-Bissau.

Há caixas de marfim com motivos africanos gravados, há máscaras, estátuas, peças de cerâmica, quadros, música, vídeos, lanças para caça e pesca, livros, tapeçarias, capulanas, fotografias, que mostram a linguagem estética africana, mas também a política e religiosa.

A exposição está dividida em três núcleos cada um demarcado a uma cor – “Espaços e poderes” (vermelho), “Conquista e exploração” (amarelo), “Símbolos e cores” (azul) – mas apresentados em conjunto e em justaposição para mostrar a inter-relação entre as peças, explicou a diretora do Padrão dos Descobrimentos, Margarida Kol de Carvalho.

“Nesta exposição abrimos essas visões através de várias vozes, olhares e perspetivas”, porque África está “muito marcada pela visão colonial” e esta mostra pretende desmistificar muitas dessas questões, acrescentou a responsável, acrescentando que foi pedido aos investigadores que “África se conhecesse a ela própria e não fosse a visão do português”.

“Contar Áfricas!” vai estar aberta ao público até dia 21 de abril e, durante esse tempo, haverá algumas visitas guiadas, ao domingo, ações de formação para professores e outras para o público, cada uma destas sobre um tema específico, que pode ser a música, a fotografia, as capulanas, o cinema, ou a palavra.

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