Contactado pela agência Lusa, na sequência de uma publicação de Carlos da Torre na sua página no Facebook, o artista classificou a decisão de "irresponsável e de desprezo absoluto” pelo trabalho dos artistas.
“Há outra leitura possível?”, questionou.
A agência Lusa contactou o provedor da Misericórdia de Viana do Castelo, Mário Guimarães, mas ainda sem sucesso.
Na base da decisão, adiantou Carlos da Torre, “está o facto de, numa visita prévia, 45 minutos antes da hora da inauguração", os responsáveis da Misericórdia de Viana do Castelo, que gere a galeria que ia acolher a mostra, "terem considerado os conteúdos impróprios para aquele espaço”.
Segundo Carlos da Torre, em causa estão sete das 21 obras que fazem parte da exposição.
Os sete trabalhos, da sua autoria, retratam a nudez da mulher.
“São corpos de mulheres, muito simples, elegantes, acho eu. É evidente que pode haver algum erotismo, mas para se ver pornografia tem de ser uma mente muito perturbada”, afirmou o artista.
O artista explicou que “há três semanas que a Santa Casa da Misericórdia sabia do tema da exposição", e está incrédulo com a “forma como se lida com o pudor e com a nudez”.
“A nudez está nas igrejas há 500 anos. Se for à Misericórdia, nos azulejos vai lá encontrar muita nudez“, disse, referindo que “há três semanas a Misericórdia recebeu o nome da exposição e a fotografia de dois trabalhos": Um meu e, outro, do Arnaldo Alves".
"A fotografia do meu trabalho foi a que mais escandalizou”, disse.
Segundo Carlos da Torre, “depois de enviadas as fotografias dos trabalhos a expor, foi contactado por um elemento da Mesa da Santa Casa a perguntar se o desenho da mulher nua ia ser utilizado no cartaz da exposição”.
“Disse que o cartaz ainda não estava feito e perguntei se havia algum problema com aquele trabalho. Disseram-me que preferiam que não fosse utilizado no cartaz que anuncia a exposição, instalado à porta da galeria. Nunca prometi nada, mas tive o cuidado de não pôr esse trabalho no cartaz“, referiu.
“Acharam que por ser pela porta da galeria que as pessoas entram para a igreja, iria chocar, e eles não toleram isso".
"Mas só as pessoas que participam em visitas guiadas, que são pagas, ao museu e à igreja, é entram pela porta da galeria. As que querem ir à missa, entram pela porta da igreja”, situada ao lado da galeria.
Carlos da Torre adiantou ter “avisado” a pessoa que o contactou sobre o cartaz, que os seus desenhos versavam a “nudez da mulher”.
A galeria, situada em pleno centro da cidade, é cedida gratuitamente, pela instituição, ficando os custos de montagem das exposições a cargo de quem as organiza.
Desde 2015, que Carlos da Torre expõe com regularidade na galeria e não esperava tal situação.
“O que mais entristece é que as minhas relações com a Misericórdia sempre foram de cordialidade e até de alguma amizade. A relação era fracamente boa. Após o anúncio do cancelamento, só nos restou acatar e só podemos lamentar e pedir desculpa aos amigos que tiveram a amabilidade de comparecer em vão”.
“Havia pessoas à porta da galeria à espera. Amigos nossos, inclusive alguns que tinham vindo de fora“, insistiu.
A publicação de Carlos da Torre nas redes sociais foi alvo de centenas de comentários de condenação do cancelamento da mostra, no mês em que se comemora o 25 de Abril.
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