“Sidónio Pais: retrato do país no tempo da Grande Guerra” é o título da exposição que reúne “objetos extraordinários, não só relativamente ao Presidente, como à época – e estamos a falar de uma época conturbada, com o final da I Grande Guerra e as aparições em Fátima”, disse, à agência Lusa, a diretora do Panteão Nacional, Isabel de Melo.

Referindo-se a Sidónio Pais, Isabel de Melo recordou que “foi o primeiro [presidente] a preocupar-se com a sua imagem pública, o ‘marketing’, a forma como se deixava fotografar – só de uma certa maneira -, e da sua promoção política”.

“Deve-se a Sidónio Pais a criação do Serviço de Audiovisuais do Exército e, na exposição, temos filmes da participação portuguesa na Grande Guerra e das várias visitas presidenciais que fez, assim como do seu funeral”, disse.

A exposição reúne vários objetos pessoais, “nomeadamente uma magnífica espada, que ele usava sempre, uns binóculos, assim como objetos ligados à arte de montar, pois fazia gosto em cavalgar e apresentar-se montado num cavalo branco”, contou a diretora do Panteão Nacional, referindo “o apoio fundamental da família” na concretização da mostra.

Entre os objetos pessoais, Isabel de Melo destacou um cofre com a imagem de Sidónio Pais, um colar de pérolas que foi oferecido, quando do casamento de uma das suas filhas, “pelas mulheres portuguesas, acompanhado por uma lista com os nomes e os respetivos donativos para a aquisição desse presente”.

A mostra, que estará patente até março próximo, inclui ainda vários objetos relativos à atividade universitária de Sidónio Pais, nomeadamente publicações suas.

Sidónio Pais foi lente de Matemática na Universidade de Coimbra.

Paralelamente, “no sentido de contextualizar a época”, a mostra inclui vários objetos de arte, nomeadamente esculturas de Teixeira Lopes, Francisco dos Santos e Simões de Almeida, entre outros, e pinturas de Amadeo de Souza-Cardoso, Abel Salazar e Eduardo Viana, uma “custódia magnífica em prata lavrada do Santuário de Fátima, oferta da Quinta da Regaleira [em Sintra], de autoria do italiano Luiggi Manini”, além de várias fotografias.

“A exposição aborda não só a figura do Presidente como a época em que viveu”, reforçou a responsável.

Inclui também a descrição “de um ambiente quase misterioso e fantástico”, pelo jornalista Augusto de Castro, de um encontro com o Presidente Sidónio, que, no fim do mandato, se isolou no Palácio da Pena, que “quase funcionou como uma masmorra”.

Augusto de Castro narra a forma como, subindo a rampa da Pena, iluminada por archotes empunhados por soldados, estes transmitiam sinais autorizando a sua passagem pelas sucessivas barreiras de segurança, até encontrar o Presidente no meio dos seus papéis oficiais, isolado e afirmando-se muito só.

Sidónio Pais liderou uma insurreição contra o Governo liderado por Afonso Costa e, a 11 de dezembro de 1917, tomou posse como Presidente do Ministério (atual primeiro-ministro), acumulando as pastas ministeriais da Guerra e a dos Negócios Estrangeiros. A 27 de dezembro, assumiu as funções de Presidente da República, até nova eleição, em aberta rutura com a Constituição da República, que ajudara a redigir.

Em março de 1918, Sidónio Pais, que assumiu um poder presidencial absoluto, estabeleceu o sufrágio direto e universal para a eleição do Presidente da República e, em abril desse ano, submeteu-se ao escrutínio popular, tendo sido eleito, exercendo as funções de chefe de Estado de maio desse ano até ao seu assassinato, aos 46 anos, em dezembro de 1918.

Sidónio Pais encontra-se sepultado no Panteão Nacional desde a abertura do monumento, em 1966. “Curiosamente, desde essa data, é dos poucos túmulos onde nunca faltam flores frescas, além dos de Amália Rodrigues [trasladada em 2001] e de Eusébio [trasladado em 2015]”, disse Isabel de Melo à Lusa.

“Continua a haver umas manifestações de alguém que vem colocar um ramo de flores, é constante”, reforçou a diretora do Panteão Nacional.

Em 1966, além de Sidónio Pais, foram também trasladados para o Panteão Nacional, os presidentes Teófilo Braga e Óscar Carmona, e os escritores João de Deus, Almeida Garrett e Guerra Junqueiro, que se encontravam no Mosteiro dos Jerónimos.