“O projeto, situado na região do Alentejo, pretende tentar desenvolver a produção de proteaginosas, como a fava, grão de bico e ervilha, de variantes que não são de consumo humano, para se poder utilizar na alimentação animal”, avançou à Lusa o presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA), José Romão Braz.

De acordo com este responsável, a iniciativa, desenvolvida em parceria com a Universidade de Évora e a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), implicou um investimento de mais de 250 mil euros, apoiado por fundos comunitários.

Por outro lado, está a ser desenvolvido um laboratório colaborativo, que envolve a IACA, universidades e empresas privadas, que vai permitir a realização de investigações sobre esta matéria.

Romão Braz ressalvou que, embora estes projetos estejam a dar os primeiros passos, revestem-se de grande importância tendo em conta que cerca de 80% das matérias primas utilizadas no fabrico de alimentos compostos para animais em Portugal são importadas.

“Temos a noção de que não vamos conseguir ser autossuficientes, mas a nossa ideia é aumentar a cobertura das matérias primas nacionais”, assegurou.

Os objetivos dos produtores passam ainda pelo aumento da área destinada à produção de milho, pela maior incorporação de algas e também de insetos na alimentação animal e pela aposta na economia circular.

“Mais de 30% das matérias primas utilizadas são coprodutos ou produtos geridos na indústria de alimentação humana. Desta forma, conseguimos reciclar e voltar a introduzir [a matéria] na cadeia alimentar”, exemplificou.

No âmbito da celebração dos seus 50 anos, a associação decidiu lançar um estudo, realizado pela GFK, para saber qual a perceção dos portugueses face à alimentação animal e o impacto desta no ambiente e na economia e, por outro lado, averiguar os hábitos alimentares dos consumidores.

Os dados apontam que a quase totalidade dos portugueses come carne e peixe (99,8%) e que 92% consome carne várias vezes por semana, enquanto o peixe é consumido com menor frequência, embora também estejam em maioria (72%) aqueles que o consomem mais do que uma vez por semana.

Já o leite tende a apresentar consumo mais polarizado, ou seja, os inquiridos afirmaram que ingerem este produto todos os dias ou não o consomem de todo, enquanto os ovos são tendencialmente consumidos entre uma a quatro vezes por semana.

No entanto, 10% dos inquiridos já ponderaram uma alimentação exclusivamente vegetariana ou vegan, sendo que destes, a maioria (69%) avaliou essa hipótese por considerar que esta pode ser uma alimentação mais saudável.

Relativamente à alimentação animal, sete em cada dez inquiridos consideraram que a alimentação animal tem um impacto elevado ou extremamente elevado na alimentação humana.

“As conclusões também apontam que as pessoas ainda têm um desconhecimento no que se refere à alimentação animal, nomeadamente, no tipo de matérias primas utilizadas, na sua importância na economia circular e no reaproveitamento de produtos”, garantiu à Lusa Romão Braz.

Para o presidente da IACA este estudo veio confirmar que o setor, apesar de ainda ser desconhecido, tem condições para continuar a operar no futuro, prosseguindo os investimentos na adaptação das fábricas aos novos desafios.

O estudo teve por base 1.012 entrevistas, num universo constituído por homens e mulheres, com idades superiores a 18 anos, residentes de norte a sul do país.

A IACA tem 58 associados que produzem, anualmente, cerca de 3,2 milhões de toneladas de alimentação animal, ou seja, cerca de 80% do total da produção nacional deste setor.

Do total da produção dos associados, apenas 3% se destina a exportação para países como Espanha, Grécia e Angola.

Este grupo fatura anualmente cerca de 1,4 mil milhões de euros e emprega, diretamente, 3.500 pessoas.