Em causa está a “guerra híbrida” promovida por países externos à UE, assente na desinformação difundida através de “meios tecnológicos muito sofisticados”, afirmou Paulo Rangel (PSD) em declarações à agência Lusa à margem da sessão plenária do Parlamento Europeu, que decorre em Estrasburgo, França.
Falando sobre o tema que esteve em foco na sessão, o eurodeputado assinalou que “um exemplo que é dado logo à cabeça é o do ‘Daesh’ [Estado Islâmico] que, apesar de tudo, continua a alimentar alguns ‘sites’ e alguma informação que chega à Europa, não apenas no sentido de recrutar pessoas para o terrorismo, mas de criar desinformação e instabilidade”.
Acresce o caso da Rússia, “mais comum e mais conhecido, marcado pela utilização do ‘hacking’ e de ter um conjunto de IP [endereços digitais] sediados na zona de Moscovo, o que significa que as bases tecnológicas destas campanhas de desinformação estão diretamente ligadas a agências de informação e de inteligência de investigação russa”.
Por isso, o responsável defendeu um “conjunto de boas práticas que, conjugadas, articuladas, podem diminuir imenso a intensidade dessa propaganda e dessa desinformação”.
Trata-se, assim, de meios “muito variados, desde a formação dos jornalistas, à criação de alguns controlos e filtros tecnológicos, mas também o cuidado contrário, de não estabelecer censura”, elencou.
Estas medidas apontadas por Paulo Rangel constam de um relatório realizado pela Comissão de Assuntos Externos do Parlamento Europeu, que foi hoje aprovado em plenário por 489 votos a favor, 148 contra e 30 abstenções.
O documento traduz-se numa recomendação do Parlamento Europeu ao Conselho da UE e à vice-presidente da Comissão e Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Federica Mogherini, sobre a comunicação estratégica da União para enfrentar a propaganda dirigida por terceiros.
“Não é apenas as ‘fake news’ [notícias falsas], é muitas vezes o aproveitar da agitação em termos de visualizações, de criar notoriedade, alguma informação viral, ainda que seja verdadeira, e com isso estar a interferir na formação da opinião pública e da opinião que leva ao voto, seja em eleições, seja em referendos”, apontou Paulo Rangel à Lusa.
Entre as medidas defendidas no relatório está, primeiramente, a “consciencialização das pessoas”, o que passa pela sensibilização por parte de “atores que têm posição privilegiada”, como jornalistas, líderes religiosos e até políticos, observou Paulo Rangel.
“Os políticos têm uma especial responsabilidade porque são muito produtores de ‘fake news’ ou do que chamamos de meias verdades, isto é, partem de uma verdade e exageram um pouco para vender melhor o seu produto”, considerou.
O documento hoje aprovado visa ainda o desenvolvimento de um “conjunto de meios tecnológicos que podem ser usados para detetar anomalias”, adiantou o eleito pelo PSD.
Os eurodeputados querem, assim, um novo quadro jurídico a nível europeu e internacional para combater estas ameaças e a expor a desinformação, pedindo uma resposta da UE que possa incluir sanções.
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