Em 2014, a Amazon lançou o Alexa, um programa de assistência virtual comandado por voz. O sistema, integrado em vários aparelhos eletrónicos por si comercializados — como o Echo ou o Echo Dot —, permite aos utilizadores que façam perguntas ou dêem comandos como fazer uma pesquisa online, mudar de música ou anotar uma lista de compras.
Para que tais ordens sejam reconhecidas, o programa tem por defeito um sistema em que é preciso dirigir-se ao aparelho com o nome “Alexa”, já que a assistência é feita através de uma voz feminina que responde por essa denominação.
São estes os comandos que estão na origem das queixas de várias crianças com esse nome, assim como os seus pais, já que passou a ser comum serem alvo de piadas em que as pessoas dizem “Alexa” e mencionam uma ordem de comando de seguida.
À BBC, uma mãe queixa-se de que a sua filha, já no ensino secundário, passou a ser alvo de piadas constantes não só dos colegas, como dos professores, e que a escola não teve interesse em combater esses comportamentos. A violência psicológica chegou a tal ponto que decidiram mudar-lhe de nome e começar uma nova vida noutro estabelecimento de ensino.
Outra mãe denuncia que a sua filha, de seis anos, já começou a ser alvo das mesmas piadas mal entrou na escola e que confessa que preferia que as outras pessoas não soubessem o seu nome.
Mesmo adultos sofrem dos mesmos problemas. Uma mulher chamada Alexa, residente em Hamburgo, na Alemanha, disse à emissora britânica que sofre de problemas pessoais e profissionais, já que quando faz uma apresentação e revela o seu nome, sabe que vai ser alvo de comentários.
“Eu acho que é eticamente inaceitável que uma marca possa sequestrar um nome humano e mudar-lhe completamente o seu significado. O meu nome é a minha entidade”, defende, considerando que não é ela e outras pessoas chamadas Alexa que têm de mudar, mas sim a Amazon que “tem de dar um passo atrás”.
Perante este cenário, Lauren Johnson, uma mãe de Massachusetts, nos EUA, criou uma campanha chamada “Alexa is a Human” (“A Alexa é uma Humana”), procurando pressionar a Amazon a mudar o seu produto. “É um apagar de identidade. A palavra ‘Alexa’ tornou-se sinónimo de servo ou escravo. Dá às pessoas autorização para tratar quem tem esse nome de forma subserviente”, diz.
A empresa já reagiu às queixas, dizendo lamentar os abusos. “Ficamos tristes pelas experiências que partilharam e queremos ser muito claros: bullying de qualquer forma é inaceitável, e condenamo-lo da forma mais veemente possível”, comunicou a Amazon numa nota.
Defendendo ter criado este sistema de assistência para refletir qualidades como ser "inteligente, atencioso, empático e inclusivo”, a Amazon alerta para o facto de que é possível mudar a palavra de comando para ‘Echo’ ou ‘Computador’. No entanto, não adiantou se está a pensar em alguma mudança de fundo, adiantando apenas valorizar as opiniões dos clientes e continuar a “oferecer mais escolhas nesta área”.
Uma das mães entrevistadas, todavia, aponta para o facto de que a Amazon não comercializa os seus produtos sublinhando que o nome Alexa pode ser alterado.
Esta não, de resto, a única assistência de voz a ter um nome como comando. O sistema da Apple é conhecido por Siri por essa ser a denominação a usar para usar o serviço, sendo que, apesar de ser muito mais incomum haver pessoas com este nome, também há casos de queixas.
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