Chama-se Faruk, é um Labrador Retrivier e tem sete anos — é mais velho do que o CDS, já que falamos de idade (um ano de vida de cão equivale a sete de humanos), um assunto tão sensível neste 28.º Congresso do partido.

Dócil e paciente, quase sempre deitado, ouviu tudo e todos impávido, e só perto da meia-noite, do primeiro dia do congresso, deu sinal de cansaço.

Faruk é o cão-guia da congressista Ana, cega de nascença, e está com ela desde os dois anos, o tempo que precisou para ser treinado para ser os seus olhos. Mas é muito mais do que isso.

Ana é de Espinho, trabalha no Porto, numa instituição financeira, e anda sempre acompanhada de Faruk, que este fim de semana veio passear até Aveiro. "Espero que o CDS possa encontrar um caminho", diz Ana. E esta podia ser a metáfora perfeita para o dia em que o CDS elege o seu novo guia, Francisco Rodrigues dos Santos.

Ana foi buscar Faruk a Mortágua, onde está a Associação Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual (ABAADV), uma instituição de solidariedade social e a única a formar cães-guia para cegos em Portugal.

Criada em 2000, a ABAADV surgiu como consequência de um projeto comunitário e tem como principal objetivo a educação de cães-guia para cegos, que faz de forma gratuita e vai entregando a quem se inscreve na associação para esse fim.

créditos: Rita Sousa Vieira / MadreMedia

Como Faruk, os cães-guia, ou cães de assistência, são animais treinados especialmente para auxiliar pessoas cegas e com deficiências visuais.

Os cães-guia têm acesso livre a espaços habitualmente interdito a animais, como transportes públicos, edifícios públicos, centros comerciais ou restaurantes. Em Portugal este direito existe desde 2007.

As referências a cães-guia, no entanto, são muito mais antigas e remontam ao século XVI. Os primeiros locais de treino de cães-guia apareceram na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, quando eram utilizados para apoiar veteranos de guerra feridos em combate.

O treino de cães-guia é complexo e longo, pode levar entre dois a três anos. É importante que o cão evite distrações ao longo do trabalho que realiza diariamente com o seu dono, como brincar com outros animais ou humanos, ou desobedecer às ordens dadas pelo dono. Um cão de assistência está normalmente apto a desempenhar estas tarefas ao longo de dez anos, até se retirar a passar a animal de companhia a tempo inteiro.

Nem todas as raças de cães são adequadas para cães-guia, que tem de ter características físicas e psicológicas muito específicas. É por isso que a raça Labrador Retriver, Golden Retriever e Pastor Alemão são as mais comuns, embora possam existir muitas outras. A escolha deve-se quase sempre à inteligência canina comprovada, à facilidade de trabalho e à maturidade que a raça atinge rapidamente. E Faruk provou ter todas estas qualidades, assistindo a palmas, apupos e outras manifestações sempre indiferente, mesmo tendo recebido quase tantas festas como Francisco Rodrigues dos Santos.