“Neste momento está a confusão instalada”, sublinhou Mário Nogueira em conferência de imprensa, referindo que entre as queixas que a começou a receber desde quinta-feira há casos de professores chamados para dar aulas presenciais numa espécie de regime misto.
Nestas situações, relatou, as escolas estão a convocar docentes para irem à escola dar aulas presenciais a alunos que não têm como aceder às sessões ‘online’ e, simultaneamente, a todos os restantes alunos da turma que estão em casa.
“Perante isto, o próprio objetivo de passar a ensino a distância, que é as pessoas estarem confinadas e não andarem a confinar, perde-se”, sublinhou o dirigente sindical.
Esta espécie de ensino misto, acrescenta, não serve nem aos alunos, aqueles que estão em casa e aqueles que estão na escola, nem aos professores, que têm de dividir a sua atenção entre os dois grupos, e parte do pressuposto de que as aulas ‘online’ podem ser iguais às aulas presenciais.
“Está a criar-se aqui uma confusão de tal forma que, um dia destes, isto já não é nada. Nem é ensino presencial, nem é ensino a distância”, afirmou, referindo que cada regime deveria ter metodologias próprias e tempos próprios.
Por outro lado, no entender de Mário Nogueira, esta divergência no acesso às aulas poderá também motivar alguns pais a exigirem que também os seus filhos tenham aulas presencialmente.
Questionado sobre qual seria, então, a alternativa para os alunos que não têm computador ou acesso à Internet, Mário Nogueira sugeriu que esses casos fossem concentrados nas escolas de referência que se vão manter abertas para acolher os filhos de trabalhadores essenciais, com os meios necessários para os acompanhar, sem que os docentes que deveriam estar em teletrabalho sejam convocados para dar aulas na escola.
Além desta situação, a tal “confusão instalada” está a manifestar-se também na forma como as aulas a distância estão a ser preparadas.
Na terça-feira, o Ministério da Educação enviou às escolas orientações que estipulam que haja “um equilíbrio entre atividades síncronas e assíncronas que proporcione tempos de atenção dispensada em ecrã e tempos de trabalho assíncrono, em função dos diferentes níveis de ensino e das condições específicas de cada turma”.
As escolas têm autonomia para definir esses tempos, mas segundo a Fenprof, muitas estão a impor que as sessões síncronas ‘online’ tenham a mesma duração que têm habitualmente as aulas presenciais.
“Isto é completamente absurdo, mas há escolas que estão a ir por este caminho e a achar que esta coisa de ser à distância é como se fosse presencial, mas através do computador”, disse.
As duas situações que apontou representam decisões das direções de alguns agrupamentos, que vão até contra as orientações da tutela, mas refletem “uma tremenda falta de recursos”, considera o secretário-geral da Fenprof que, por isso, não absolve o Ministério da Educação.
“O que era preciso da parte do Ministério da Educação era a coragem para dizer às escolas que há soluções que as escolas não podem tomar, porque não são legais nalguns casos e em outros não correspondem às orientações que receberam”, acrescentou o dirigente sindical.
Durante a conferência de imprensa, Mário Nogueira voltou a chamar a atenção para a situação dos professores com filhos pequenos, um problema para o qual já tinha alertado esta semana, depois de uma reunião com a tutela em que a Fenprof teria ficado com a ideia de que o Governo estaria a trabalhar numa solução para estes docentes.
Na terça-feira, Mário Nogueira tinha adiantado que a possibilidade de estes profissionais recorrerem também às escolas de referência para acolhimento estaria a ser ponderada, mas hoje lamentou que a medida não tenha sido aprovada na última reunião do Conselho de Ministros.
O representante dos professores reiterou também a necessidade de começar a preparar o regresso ao ensino presencial, assegurando as condições de segurança sanitária que consideram não terem sido garantidas no início do ano letivo, e recordou que mais de metade das escolas públicas do país registou, pelo menos, um caso de infeção pelo novo coronavírus.
Na segunda-feira, cerca de 1,2 milhões de alunos do 1.º ao 12.º ano voltam a ter aulas à distância, à semelhança do que aconteceu no passado ano letivo.
A decisão do Governo em fechar as escolas teve por base o agravamento da situação pandémica e a capacidade cada vez mais diminuta de resposta por parte dos hospitais.
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