O relato do novo quotidiano no terreno é da irmã Annie Demerjian, religiosa cristã da Síria, que visitou Portugal, a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, para relatar a sua experiência na resposta de emergência às populações e agradecer o apoio dado pelos portugueses ao povo sírio.

Sete anos depois do início da guerra, com boa parte do país novamente sob controlo do Presidente Bashar al-Assad e dos seus aliados russos, a situação de segurança no terreno melhorou e a reconstrução é visível, segundo a irmã Annie, que considera, porém, que o mais difícil está por fazer.

"A situação está melhor em termos de segurança, de bombardeamentos, de guerra, mas quando pensamos nas pessoas... Passamos por uma grande operação e agora temos que recuperar", disse em entrevista à agência Lusa.

"Reconstruir os edifícios é fácil, restaurar as almas, os corações devastados, vai demorar anos e, na Síria, a maior parte dos corações está devastada, há muitas crianças traumatizadas, mas a determinação do povo para seguir em frente é espantosa", acrescentou.

Nascida em Damasco e formada em engenharia civil, exerceu, durante anos, a profissão numa empresa libanesa na capital síria, tendo posteriormente trabalhado como professora até ingressar, em 1996, na Congregação de Jesus e Maria.

A viver em Alepo desde 2003, com o início da guerra envolveu-se na ajuda de emergência às famílias sírias vítimas do conflito, numa missão que se alarga também às cidades de Damasco, Hasakeh e Malloulla.

"Começamos a responder às necessidades. Quando não havia água, distribuímos água, quando não havia eletricidade, demos dinheiro a centenas de pessoas para pagarem a eletricidade. Estivemos anos sem eletricidade em Alepo. Combustível no inverno, roupas, sapatos, cobertores, quaisquer que fossem as necessidades, tentávamos ajudar", contou.

Boa parte da população continua a precisar de ajuda para sobreviver, mas a congregação de Annie, com o apoio da Fundação AIS, já tem no terreno respostas para a fase seguinte: formação e treino dos jovens para que possam encontrar um emprego.

"Em Alepo, há um centro de micro emprego, gerido por jovens, que está a ajudar as pessoas a começarem pequenos negócios. Abrimos algumas fábricas. Em Malloulla, temos uma fábrica de roupa interior que emprega 23 mulheres e em Alepo uma de ‘jeans’ que dá trabalho a 17 pessoas", disse.

Para a irmã Annie, é o lento regresso a uma "normalidade" que, mesmo durante o auge dos bombardeamentos, os que ficaram teimaram em não deixar morrer.

"Este ano há muitas escolas já a funcionar e milhares de crianças regressaram à escola. A vida continua, as pessoas vão para os seus trabalhos", disse.

"As pessoas continuam preocupadas. É preciso que a guerra acabe. Se por um lado as pessoas se interrogam sobre quando a guerra vai acabar, por outro, a vida continua, não pode parar. Mesmo durante a guerra, havia casamentos sob a ‘chuva’ de bombas. São sinais de vida", assinala a religiosa.

Desde 2011, a guerra na Síria provocou mais de 511 mil mortes, 106.390 das quais de civis, incluindo 19.811 crianças. Há cerca de 5,5 milhões de sírios refugiados fora do país e mais de 6 milhões de deslocados internos.

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