Amini, uma iraniana de 22 anos de origem curda, morreu no dia 16 de setembro, três dias depois de ser presa em Teerão, pela polícia da moralidade e, supostamente, violar o código do vestuário islâmico para as mulheres.

A indignação pelo sucedido, irrompeu no seu funeral e rapidamente provocou protestos generalizados liderados por jovens mulheres que queimaram os seus lenços em confronto com as forças de segurança. Protestos que se tornaram na maior onda de contestação à república islâmica, nos últimos anos.

Apesar do reforço das medidas de segurança, milhares de apoiantes de Mahsa Amini chegaram à sua terra natal, Saqez, na província ocidental do Curdistão, para prestar tributo junto ao seu túmulo num momento que marca o final do luto.

Num vídeo verificado pela AFP, uma jovem foi vista de pé no tejadilho de um automóvel sem o hijab obrigatório, a olhar para a estrada cheia de dezenas de veículos e apoiantes a caminho de Saqez. A imagem está a tornar-se viral nas redes sociais.

"Morte ao ditador", eram as palavras de ordem escutadas no cemitério de Aichi, nos arredores de Saqez.

De acordo com a imprensa local, muitos manifestantes foram vistos a caminho do palácio do governador, no centro da cidade. A mesma fonte avançou ainda que pretendiam atacar uma base militar.

"As forças de segurança dispararam gás lacrimogénio e abriram fogo contra pessoas na praça Zindan, na cidade de Saqez", disse Hengaw, um grupo norueguês de monitorização de violações de direitos humanos fixado na região curda do Irão. A ONG não especificou se a carga policial causou mortos ou feridos.

A agência de notícias iraniana, ISNA, disse que a Internet foi cortada em Saqez, por "razões de segurança", e que perto de 10 mil pessoas reuniram-se naquela cidade.

Entretanto, muitos milhares foram vistos na estrada a caminho da cidade. O mesmo verifica-se em vídeos amplamente partilhados online.

De acordo com a ISNA, um posto de controle da polícia foi incendiado junto a uma ponte no bairro de Qavakh, em Saqez.

2022, ano sangrento

"Este ano é o ano do sangue, Seyed Ali será derrubado", cantou um grupo de manifestantes, referindo-se ao líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.

Hengaw disse que os trabalhadores entraram em greve em Saqez, bem como em Divandarreh, Marivan, Kamyaran e Sanandaj, e em Javanrud e Ravansar, na província ocidental de Kermanshah.

O grupo norueguês de direitos humanos disse que as estrelas de futebol iranianas Ali Daei e Hamed Lak viajaram para Saqez "para participar na cerimónia de fim de luto - de 40 dias".

De acordo com a ONG, os futebolistas estavam hospedados no Kurd Hotel, mas foram "levados para uma pousada do governo... sob proteção das forças de segurança", disse.

Daei já teve problemas com as autoridades por apoiar os protestos através das suas redes sociais.

“Inimigos do outro lado da barricada”

O governador do Curdistão, Esmail Zarei-Kousha, acusou os inimigos do Irão de serem responsáveis pela agitação na cidade.

"O inimigo e a sua imprensa... estão a utilizar o aniversário dos 40 dias da morte de Mahsa Amini como pretexto para causar novas tensões, mas felizmente a situação na província é completamente estável", disse ele, citado pela agência de notícias estatal IRNA.

O canal 1500tasvir, que relata as violações de direitos humanos pelas forças de segurança do Irão, disse que os novos protestos começaram nas universidades de Teerão, Mashhad no nordeste, e Ahvaz no sudoeste, entre outros.

O grupo Iran Human Rights, com sede em Oslo, disse que a repressão das forças de segurança aos protestos de Amini custou a vida de pelo menos 141 manifestantes, número atualizado na terça-feira.

A Amnistia Internacional diz que a "implacável repressão brutal" matou pelo menos 23 crianças, enquanto o IHR disse que pelo menos 29 crianças foram mortas.

Mais de cinco semanas após a morte de Amini, as manifestações não mostram sinais de terminar, pelo contrário, têm sido alimentadas pela indignação pública sobre a repressão que custou a vida de outras jovens mulheres e meninas.

A Organização Forense do Irão disse, num relatório publicado este mês, que a morte de Amini "não foi causada por golpes na cabeça e órgãos vitais e membros do corpo".

Mas os advogados da família de Mahsa rejeitaram as conclusões e pediram novo exame das causas da morte a ser feito por outra comissão.