"Olhe que é preciso estar motivado para votar hoje. Mudaram-nos de mesa de voto, já fiz a fila duas vezes e esperei 45 minutos. Tudo isto para uma eleição em que a campanha foi péssima", disse Christophe, comerciante, depois de votar, em declarações à agência Lusa.

Com um domingo de primavera cheio de sol, este parisiense ficou surpreendido com a espera na mesa de voto instalada no equivalente da junta de freguesia do terceiro bairro de Paris. A afluência foi tão surpreendente, que muitas das pessoas que saíam das mesas de voto disseram à Lusa preferir voltar para votar mais tarde.

A participação dos franceses nas eleições presidenciais às 17:00 (16:00 em Lisboa) era de 65%, mais de quatro pontos percentuais abaixo de 2017, uma taxa que se compara a 2002, quando foram batidos os recordes de abstenção. No entanto, Paris, onde menos eleitores tinham votado até essa hora, tinha filas de vários minutos na maior parte das mesas de voto.

"Esperei 30 minutos para votar, mas é a primeira vez, então foi maravilhoso", descreveu Lara, de 18 anos.

A estudar em Paris, Lara disse ter ficado também desiludida com a campanha e revelou que Emmanuel Macron perdeu o seu voto por ter decidido não participar em debates contra os outros candidatos. Sem revelar em quem votou, esta jovem disse que as políticas de imigração foram importantes na sua escolha.

"A minha escolha foi baseada naquilo que eu li nos programas ligado à imigração, não sou a favor de manter as nossas fronteiras abertas e deixar entrar toda a gente, a economia e os jovens, porque sou estudante", descreveu.

Sabrina vive também no terceiro bairro de Paris e, após algum tempo de espera, conseguiu votar, mas sem grande convicção.

"A campanha não decorreu como é normal, os temas ficaram todos misturados. Não foi uma campanha normal. Nas outras vezes as pessoas estavam entusiasmadas e vinham votar pelo seu candidato, mas hoje não há qualquer fervor nem entusiasmo", confidenciou.

Em 2017, o terceiro bairro foi a maior vitória parisiense de Emmanuel Mácron, com mais de 45% dos votos a irem para o agora Presidente. Passados cinco anos, o cenário é diferente, segundo Christophe, que disse ter votado para evitar os extremos.

"As pessoas dizem que querem tudo menos Macron e eu não percebo. A França é um país onde toda a gente é ‘anti’ qualquer coisa. Antes era anti-Hollande, anti-Sarkozy. É preciso saber quando se vota e parar de votar contra. Talvez Macron não tenha feito um ótimo mandato, certo, mas houve muitas coisas que aconteceram que ele não controlava. Não se saiu assim tão mal para as pessoas estarem sempre a queixar-se", declarou o parisiense.

Caso o embate final seja entre Le Pen e Macron, Sabrina garante voltar à urnas, não por convicção, já que votou hoje Jean-Luc Mélenchon, mas para travar a extrema-direita.

"Quer seja um, quer seja outro [Le Pen ou Macron], não é bem a mesma coisa, mas é parecido. Se os dois passarem, lá terei de votar por Macron para travar Le Pen, mesmo não sendo do seu partido", concluiu Sabrina.

As mesas de voto em França encerram entre as 19:00 e as 20:00 (menos uma hora em Lisboa), com os primeiros resultados a serem conhecidos a partir das 20:00 locais. Os dois candidatos mais votados hoje vão defrontar-se daqui a duas semanas na segunda volta das eleições presidenciais, que se realiza a 24 de abril.

*Por Catarina Falcão, da agência Lusa