Em declarações à comunicação social na manhã deste sábado, 24 de março, o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, adiantou que o jovem que ficou ferido com gravidade no ataque terrorista em França está em coma induzido.

O jovem, de 26 anos, tem uma bala alojada no cérebro, pelo que a situação é de "grande melindre e de grande sensibilidade", adiantou José Luís Carneiro.

A vítima está numa unidade de neurocirurgia em coma induzido, devendo assim permanecer durante alguns dias, enquanto são realizados exames e avaliações médicas. Isto porque a bala está alojada numa zona do cérebro que não permite extração imediata, pelo menos, segundo as informações que foram transmitidas pelos responsáveis hospitalares ao secretário de Estado.

A família do jovem internado no hospital central de Perpignan está a receber apoio alimentar e de alojamento. Em breve serão apoiados por uma associação de apoio à vitima, que deverá auxiliar em todo o processo e respetiva burocracia, adiantou o secretário de Estado das Comunidades.

“É importante para nós garantir que esta família terá todo o apoio. Hoje mesmo à tarde a família deve encontrar-se com uma associação de apoio às vítimas de atentados terroristas”, afirmou o secretário de Estado das Comunidades.

O jovem e a sua família são de Coimbra, o pai emigrou há 11 anos e trabalha atualmente numa empresa na área da construção civil. O jovem, por sua vez, chegou a França há apenas dois anos, é licenciado e estava atualmente a fazer uma formação na área de restauração e hotelaria.

Questionado sobre as informações contraditórias avançadas ontem — que davam conta da morte de um português neste ataque, o que não se veio a confirmar —, José Luís Carneiro explicou que as informações partiram das autoridades francesas, que encontraram os documentos do jovem na viatura furtada pelo atacante em Carcassonne. O cidadão francês que seguida com o jovem português na viatura foi igualmente atacado e acabou por morrer.

O autor do ataque, identificado como Redouane Lakdim, de 25 anos, sequestrou trabalhadores e clientes num supermercado de Trèbes, afirmando agir em nome do grupo extremista autoproclamado Estado Islâmico (EI). Antes, roubou um automóvel em Carcassonne e, no caminho para Trèbes, disparou seis tiros contra um grupo de quatro polícias, ferindo um deles, sem gravidade, segundo fontes próximas da investigação.

Os ataques desta sexta-feira, 23 de março, provocaram cinco mortos, incluindo o atacante, que foi abatido pelas autoridades. Entre as vítimas mortais está um agente que voluntariamente substituiu uma refém durante o sequestro, tendo sido atingido a tiro no momento em que as autoridades entraram no local para matar o atacante.

Lakdim era conhecido das autoridades por crimes menores e por tráfico de droga, mas também esteve a ser vigiado pelos serviços de informação em 2016/2017 por suspeitas de relações com movimento radical salafista, avançou o procurador Francois Molins.

Duas pessoas foram detidas por suspeitas de ligação a este ataque.

Este ataque é o primeiro desta dimensão desde a eleição do presidente Emmanuel Macron, em maio do ano passado.

A tomada de reféns acontece com França ainda em estado de alerta, após a série de atentados desde o ataque contra a redação do jornal 'Charlie Hebdo', em janeiro de 2015, que deixou 12 mortos.

A onda de atentados extremistas fez 238 mortos e centenas de feridos em 2015 e 2016. Vários ataques ou tentativas de ataques tiveram como alvo militares ou polícias.

As autoridades temem novos atentados, apesar do aumento das medidas de segurança instauradas pelo governo. São dez mil polícias e militares espalhados pelas ruas, estações e lugares turísticos.

O Estado Islâmico, que perdeu quase todo o território que conquistou no Iraque e na Síria, onde autoproclamou um califado em 2014, geralmente ameaça França em represália pela sua participação na coligação militar internacional que luta contra os seus combatentes nos dois países do Médio Oriente.

O último ataque reivindicado pelo Estado Islâmico em França aconteceu em Marselha, a 1 de outubro do ano passado. O tunisiano Ahmed Hanachi, de 29 anos, matou dois jovens em frente à estação Saint-Charles antes de ser abatido por militares.