Segundo informação da Presidência, a iniciativa, cuja data não foi divulgada, responde à “preocupação constante pelo diálogo” do executivo.

Durante uma reunião de emergência hoje, no Eliseu, o chefe de Estado também notou a necessidade de que uma “reflexão seja conduzida pelo ministro do Interior [Chistophe Castaner] para a adaptação do dispositivo de manutenção da ordem no futuro”.

O gabinete de Macron tinha já informado que o Presidente não iria falar hoje publicamente sobre os protestos dos ‘coletes amarelos’, franceses de rendimentos baixos, que se têm concentrado, aos milhares, nas ruas de França para exigir alterações nas políticas.

Depois de violentos desacatos no sábado, nomeadamente em Paris e o registo de vandalismo do Arco do Triunfo, foi marcada uma reunião de emergência para hoje, horas depois do regresso de Macron da cimeira de líderes do G30, em Buenos Aires.

Macron deslocou-se hoje ao Arco do Triunfo e foi vaiado por vários manifestantes.

O monumento que é símbolo emblemático de Paris e da própria França foi pintado, o seu museu saqueado e uma estátua partida, à margem dos protestos.

Os últimos dados sobre sábado indicam que 136 mil pessoas se juntaram à mobilização dos ‘coletes amarelos’ e que houve 263 feridos. Em Paris, 412 pessoas foram interpeladas pelas forças de segurança e 378 detidas, segundo um balanço da polícia local, que registou 133 feridos.

No sábado da semana passada tinham saído às ruas 166 mil pessoas. A escala inédita destes protestos nas últimas décadas levou Edouard Philippe a cancelar a sua viagem à Polónia para a cimeira climática COP24.

O Senado francês também anunciou neste domingo que convocou para terça-feira os dois ministros da segurança para "explicações sobre os meios empregues pelo ministério do Interior" no sábado.

Durante a noite, um condutor motorista morreu em Arles (sudeste de França)) depois de embater num veículo pesado numa fila de trânsito provocada por uma coluna de ‘coletes amarelos’.

Este acidente aumentou para para três o número de mortes relacionadas com os protestos iniciados há três semanas por pessoas que envergam coletes amarelos florescentes.

As reações da esquerda à direita, passando por Macron

Emmanuel Macron acusou os manifestantes violentos de quererem apenas o "caos". O seu ministro do Interior, Castaner, não descartou a possibilidade de estabelecer o estado de emergência para evitar um novo surto de violência no próximo fim de semana.

Segundo o presidente, os distúrbios "nada têm a ver com a expressão do legítimo descontentamento" dos "coletes amarelos", um movimento social de franceses de classes baixas e média que inicialmente se opunha ao aumento do preço dos combustíveis, e que depois se expandiu para o problema do poder de compra, e que acusa o governo de Emmanuel Macron de tratá-los com desprezo e intransigência.

Após a violência de sábado, dia também marcado por manifestações e confrontos nas províncias, algumas vozes do poder sugeriram que haverá mudanças, pelo menos na forma, da ação governamental.

"Pecamos por estarmos muito distantes da realidade dos franceses", declarou o novo líder do partido de Macron LREM (A República em Marcha), Stephane Guerini.

Sábado à noite, Castaner reconheceu que o governo "se conteve na discussão da necessidade de abandonar o petróleo", já que a explosão da ira popular foi devido a um projeto de imposto sobre o combustível destinado a financiar a transição ecológica.

Mas a oposição e parte dos "coletes amarelos", movimento sem estrutura nem líder claro, reclamam um forte gesto por parte governo, começando com uma moratória ou um congelamento no aumento dos impostos sobre os combustíveis.

À direita, o presidente do partido Republicanos, Laurent Wauquiez, reiterou o seu apelo à organização de um referendo sobre a política ecológica e fiscal de Emmanuel Macron. Marine Le Pen (extrema-direita) pediu para ser recebida por Macron com os outros líderes dos partidos políticos da oposição.

À esquerda, o líder dos socialistas, Olivier Faure, exigiu medidas voltadas para o poder de compra e Jean-Luc Mélenchon, líder da extrema-esquerda, pediu o restabelecimento do imposto sobre as grandes fortunas, enquanto aplaudiu "a insurreição cidadã" que "faz tremer o mundo do dinheiro".

Diante das reivindicações, o governo anunciou medidas de auxílio (verificações de energia, bónus de conversão), mas descartou qualquer mudança de direção. Neste domingo, o seu porta-voz, Benjamin Griveaux, reiterou essa posição, "porque o curso é o certo".

Diante da dificuldade de canalizar para uma estrutura de negociação um movimento popular nascido fora de qualquer estrutura, Griveaux lembrou a disposição do governo em dialogar, assegurando que o Executivo está "pronto" para discutir com representantes de "coletes amarelos".