No livro "Mais 35 anos de Democracia - Um percurso singular", editado pela Bertrand, o terceiro dedicado às suas memórias e que abrange o período entre 1982 e 2017, Diogo Freitas do Amaral assume: "paguei um preço demasiado alto por ter aceitado ser ministro (independente) de um governo do PS".
De acordo com o ex-presidente do CDS, que perdeu a segunda volta das presidenciais de 1986 contra Mário Soares (49%-51%), havia "uma forte objeção" contra a sua participação num Governo do PS.
Depois de recordar que, nas presidenciais de 1986, tinha obtido o apoio do PSD e do CDS e alcançado 49% dos votos, "fazendo o pleno do eleitorado (de então) do centro e da direita, Freitas do Amaral conclui que, mesmo perdendo, "ficara a ser um símbolo - o cidadão português que, de 1974 a 1986, mais votos recebera dos eleitores do centro e da direita contra a esquerda".
"Como podia um símbolo destes - um representante, um valor político, um património histórico do centro e da direita, unidos contra toda a esquerda - mudar de campo e aceitar ser ministro de um governo do PS", questiona o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de José Sócrates (2005-2006).
Apesar de considerar ser "prática corrente" na Europa e nos Estados Unidos que "governos de esquerda tenham ministros de direita" e vice-versa, sobretudo em pastas como os Negócios Estrangeiros ou a Defesa, Freitas do Amaral afirma que a direita ficou zangada consigo.
"A direita portuguesa não aceitou. Ela achava que eu passara a ser propriedade sua, e só podia fazer o que fosse do seu agrado. A minha liberdade política, que incluía aliar-me com quem quisesse, devia ter ficado limitada pela propriedade política que a direita se arrogava sobre mim. Aliás, a direita costuma dar mais importância à propriedade do que à liberdade...", sustenta.
E foi com a "direita zangada" consigo e "Sócrates desiludido" por ter saído do governo pelo seu "próprio pé" - "apenas por razões de saúde" - que terminou a sua carreira de homem público.
"Apesar de múltiplos serviços prestados ao país durante mais de três décadas, fiquei sozinho. Nunca mais fui convidado, seriamente, para qualquer cargo público ou privado, de 2006 até hoje. Puro 'ostracismo'", sublinha.
"Tenho de reconhecer que é impossível a um centrista ter êxito num país onde praticamente não há centristas", escreve ainda o ex-presidente do CDS.
Quanto a Marcelo, Freitas manifesta "grande satisfação ao ver no Palácio de Belém o homem certo no lugar certo" e vaticina que o atual Presidente "tem praticamente garantida a sua reeleição", se decidir avançar.
Agora elogioso, Freitas do Amaral afirmou em dezembro de 2017, ao Diário de Notícias, que o Presidente da República estava “a exercer o seu mandato presidencial através das televisões”.
"Marcelo Rebelo de Sousa tem sido, em três anos e meio de mandato, não só um presidente digno, competente e amado, mas também um Homem de Estado capaz de estabelecer uma relação próxima e afetuosa com o 'povo miúdo' o que lhe valeu até agora sondagens reveladoras de uma popularidade muito alta. Se se recandidatar em 2020 (e eu espero bem que sim), tem praticamente garantida a sua reeleição", sustenta no livro.
Para o antigo candidato a Belém, Marcelo "é hoje a voz mais forte e respeitada da feição originária do PSD (social-democrata), sem concessões ao neoliberalismo de direita, à tendência estatizante da esquerda, ou aos populismos de um lado e do outro".
"Homem superiormente inteligente, culto e bem preparado, dotado de conhecimento e vocação política excecionais, e com um modo de ser naturalmente simpático, sorridente e afetuoso, estava fadado para ser um Presidente da República muito popular e querido do nosso povo", escreve Freitas do Amaral, elogiando as "acertadas promessas eleitorais" de "descrispar a vida política e ajudar o executivo (qualquer que fosse a sua cor política) a governar bem".
Nascido em 21 de julho de 1941, na Póvoa de Varzim, Freitas do Amaral foi fundador e primeiro presidente do CDS, primeiro-ministro interino (após a morte de Sá Carneiro), vice-primeiro-ministro, ministros dos Negócios Estrangeiros (duas vezes) e ministro da Defesa Nacional. No plano internacional, foi presidente da Assembleia Geral da ONU (1995-96) e da União Europeia das Democracias Cristãs(1981-83).
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