Divididos em 20 turmas, os cerca de 500 alunos do curso de agentes da Escola Prática de Polícia (EPP), em Torres Novas, passam os dias entre as aulas teóricas e práticas, como educação física, técnicas de intervenção policial, defesa pessoal e tiro.

É nestas aulas práticas que os futuros polícias da PSP simulam situações muito próximas da vida real, que os prepara para a rua e dificuldades que vão enfrentar quando chegarem a uma esquadra da região de Lisboa, onde vão ser colocados quando terminaram o curso, no final de junho.

A Lusa passou um dia na EPP e acompanhou algumas dessas aulas: futuros polícias a aprenderem a defender-se de agressores, a algemarem um suspeito e a darem os primeiros tiros naquela que será a arma durante a carreira, tudo acompanhado de muita disciplina e rigor.

“A disciplina, o rigor, é sempre muito tido em conta desde o primeiro dia. Os alunos também são avaliados nessa vertente. Têm uma nota de mérito que interfere na classificação final, porque um polícia no futuro, para além de fazer cumprir as regras, têm que ser cumpridor essencialmente de regras”, disse à Lusa a diretora de formação da EPP, Elisa Borges.

A oficial conta que os futuros agentes têm consciência do risco da profissão e daquilo que os espera em Lisboa: “Todos os formadores são profissionais já como muitos anos de terreno e transmitem o risco e situações práticas que aconteceram na vida deles. Vão daqui capacitados, que é uma vida dura, com sacrifício, com risco”.

Este risco e espírito de missão e sacrifício já está bem presente nos futuros agentes que entraram na escola em novembro do ano passado como é o caso de Rui Martins, 22 anos, que desde criança sonha em ser polícia: “Estar na escola a tirar o curso de agente é a realização de um sonho”.

O jovem de Tavira conta à Lusa que desde cedo contacta com a atividade da PSP e com polícias da área de residência e o facto de ter um primo polícia no Brasil foram fatores determinantes e decisivos para escolher esta profissão e, mesmo os baixos salários, não o impediram de concretizar o sonho de ser polícia.

“Tudo está em constante evolução. Se formos ver a condição laboral que os polícias tinham há 10, 20, 30 anos atrás, podemos inferir que houve uma grande evolução e cabe-nos a nós também, dentro das nossas possibilidades, legalidade e legitimidade que nos é atribuída lutarmos pelas nossas condições”, diz, admitindo que quando chegou à EPP teve “um choque de realidade pela disciplina do próprio regime”, mas garante que aquilo que o move é a vocação de ser agente.

Ser polícia desde criança não era a ambição de Luís Almeida, 28 anos, mas escolheu ser agente pela vontade de ajudar os outros e pela oportunidade que agora surgiu ao ter aumentado a idade para ingressar na PSP.

“Sempre procurei algo que trouxesse responsabilidade, que tivesse aceitação das pessoas e de ajudar o próximo e senti que a profissão de polícia respondia a essa ambição. Já tinha exercido várias profissões anteriormente. Neste momento queria procurar uma profissão mais estável e a polícia foi algo que preenchia os requerimentos”, conta este jovem da Amadora, que foi atleta profissional de andebol.

Luís Almeida conhece os riscos da profissão, mas diz que quando se faz “as coisas com gosto, prudência e cuidado necessário” tudo é possível.

Maria João, 28 anos, trocou o terceiro ano do curso de enfermagem pela profissão de polícia, uma influência do pai, que é militar da GNR.

“Eu sempre tive duas ambições ou ser enfermeira ou polícia, mas a paixão pela profissão de polícia despertou-me e decidi concorrer e tive a sorte de ingressar neste curso”, afirma a jovem de Loures, que está consciente dos baixos salários e do risco da profissão, mas “nada disso impediu” o ingresso na PSP.

“Vele muita a pena hoje em dia ser polícia”, conta.

Também filha de um PSP, Marta Alves, 22 anos, escolheu a profissão por influência do pai: “Tenho muitos familiares na polícia e é principalmente aí que vem a vontade de ser polícia, sempre foi a minha ideia ser polícia, ao conviver com o meu pai, meu tio. Sempre tive essa admiração pela profissão”.

Mesmo com as queixas dos baixos salários, a jovem de Loures não desistiu por ser “mesmo uma questão de gosto e admiração”. “Tal como em todas as profissões, há sempre lados menos bons, mas ele [pai] sempre me incentiva mais no lado positivo”.

Já Márcia Policarpo, 25 anos, de Lisboa, conta à Lusa que foi através dos bombeiros e da licenciatura de políticas de segurança que descobriu o interesse em ser polícia e confessa que encontra na PSP uma instituição onde pode progredir na carreira.

“É muito bom para os jovens porque na PSP há a Unidade Especial de Polícia e o instituto para quem quiser continuar a estudar, quiser ter uma licenciatura ou um mestrado. Dentro da PSP há várias oportunidades”, frisa.

Os alunos que frequentam a EPP têm que se candidatar e passar em diferentes provas de conhecimentos, físicas, testes psicotécnicos e entrevista profissional. Neste momento está a decorrer, até terça-feira, um novo concurso para admissão ao curso de agentes.

Nos últimos anos, tem diminuído a atratividade da profissão e, segundo dados a que a Lusa teve acesso, em 2012 eram mais de 10.000 os candidatos ao curso de agentes, passando para pouco mais de 3.000 em 2023.

A diretora de formação da EPP não sabe o que é necessário fazer para alterar esta situação. “Muito sinceramente não sei, porque tem que ser inerente à própria pessoa. Se as pessoas não têm vontade de serem polícias e não tiverem essa expectativa de vida, dificilmente conseguiremos captar a atenção. Acredito que provavelmente as pessoas não estão motivadas para ter uma profissão onde impera a disciplina, rigor, espírito de missão e sacrifício. Às vezes não é fácil para um jovem com 18 ou 20 anos decidir-se por isso é muito mais fácil ir para uma universidade”.

Elisa Borges admite que o risco e as condições de trabalho tenham influência na atratividade, mas realça que dentro da PSP se pode progredir na carreira e tirar cursos que “podem levar a ganhar mais algum dinheiro”.

“Os polícias nunca ganharam bem e no meu caso pessoal, essa não era a parte mais importante”, diz ainda a oficial que está há 38 anos na PSP.

 Texto de Célia Paulo, foto de Paulo Cunha da agência Lusa