Em declarações à agência Lusa a propósito deste método pioneiro no tratamento de doentes com insuficiência cardíaca, o diretor do serviço de cardiologia do hospital, Vasco Gama, disse que esta patologia é frequente, principalmente em doentes operados à válvula mitral, cuja parte direita do coração se vai dilatando com o tempo, fazendo com que aumente também o anel da válvula tricúspide.
Esta válvula separa duas cavidades do coração - aurícula direita e o ventrículo direito - e é composta por um anel de sustentação, que fixa três componentes (ou cúspides).
Através do método agora adotado, ainda em fase experimental e que demora em média entre duas e três horas, é possível diminuir o grau de dilatação da válvula tricúspide, melhorando clinicamente os sintomas associados à patologia e diminuindo a necessidade de os doentes se dirigirem ao hospital.
Neste procedimento não invasivo "são feitas duas incisões na veia jugular do paciente, por onde entram dois implantes pequenos que, através de um dispositivo controlado, são colocados na válvula do paciente", explicou Vítor Veloso, especialista clínico da empresa americana responsável pelo desenvolvimento do dispositivo utilizado nesta técnica.
"Depois de implantados, esses dois pontos são aproximados, reduzindo dessa forma o tamanho da válvula", disse.
De acordo com Vasco Gama, os pacientes submetidos até à data à técnica iniciada nos Estados Unidos têm tido bons resultados, podendo voltar a ter uma vida "praticamente normal".
Entre os sintomas mais comuns de quem enfrenta esta patologia encontram-se a falta de ar, o inchaço nas pernas, a dificuldade na marcha e o fígado dilatado, "uma situação muito incapacitante e que não tende a piorar com o tempo", indicou o médico.
Maria da Conceição Gomes, de 77 anos, foi uma das duas pacientes submetidas a este método no Centro Hospitalar de Gaia.
"Sentia muito cansaço e uma grande dificuldade em respirar", disse a paciente, que já tinha sido submetidas duas vezes a cirurgias à válvula mitral.
Segundo o especialista Vítor Veloso, até ao momento tinham sido realizadas 31 intervenções com esta técnica, 15 delas nos Estados Unidos e as restantes em alguns países europeus, com uma permissão concedida pela FDA - órgão dos Estados Unidos que tem a função de controlar os alimentos e medicamentos, através de testes e pesquisas.
Além de estrear na Península Ibérica no procedimento cirúrgico não invasivo para doentes com insuficiência severa da válvula tricúspide, o serviço de cardiologia de Gaia foi também pioneiro na Peninsula tratar a estenose aórtica (doença estrutural cardíaca) por via percutânea, em 2007. Este é o tratamento preferencial desde então em doentes inoperáveis que sofrem da patologia, contou Vasco Gama.
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