“Uma delegação de alto nível liderada pelo ‘mullah’ Baradar deixou o Qatar e chegou ao nosso amado país esta tarde, pousando no aeroporto de Kandahar”, no sul do Afeganistão, disse Mohammad Naeem numa declaração publicada na rede social Twitter.
O ‘mulllah’ é a designação que define um guardião da teologia islâmica, habitualmente líder dos movimentos mais fundamentalistas.
Esta é a primeira vez que um líder ativo dos talibãs regressa publicamente ao Afeganistão desde que o grupo foi destituído do poder, em 2001, pela coligação ocidental liderada pelos Estados Unidos após os ataques de 11 de setembro de 2001.
Kandahar era a capital do país durante a época em que os talibãs governavam o Afeganistão (de 1996 a 2001), tendo sido na província com o mesmo nome que o movimento nasceu, no início dos anos 1990.
Abdul Ghani Baradar, nascido na província de Uruzgan (sul do país) foi criado em Kandahar e tornou-se cofundador do grupo talibã em parceria com o ‘mullah’ Omar, que morreu em 2013, mas cuja morte foi escondida durante dois anos.
Tal como aconteceu com muitos afegãos, a sua vida foi marcada pela invasão soviética de 1979, que o tornou um mujaidine (Soldado de Deus).
Em 2001, após a intervenção norte-americana e a queda do regime talibã, Ghani Baradar terá feito parte de um pequeno grupo de insurgentes que defendiam um acordo para assumirem a administração de Cabul, mas a iniciativa fracassou.
Foi detido em 2010 enquanto líder militar dos talibãs, em Carachi, no Paquistão, sendo libertado em 2018, por pressão de Washington.
Ouvido e respeitado pelas várias fações dos talibãs, foi então nomeado líder do gabinete político do grupo, localizado no Qatar, e passou a dirigir as negociações com os norte-americanos que levaram à retirada das forças estrangeiras do Afeganistão.
Liderou também as negociações de paz com o Governo afegão, mas as reuniões não levaram a qualquer acordo.
Os talibãs conquistaram Cabul no domingo, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A tomada da capital põe fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.
Face à brutalidade e interpretação radical do Islão que marcou o anterior regime, os talibãs têm assegurado aos afegãos que a “vida, propriedade e honra” vão ser respeitadas e que as mulheres poderão estudar e trabalhar.
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