Homens escondidos sob pseudónimos, como "Laurent du Vaucluse" ou "Luc Pizza", entraram em contacto com o marido da vítima, Dominique Pelicot, através do site coco.fr.

Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:

Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt

Associação de Mulheres Contra a Violência - AMCV
213 802 165
ca@amcv.org.pt

Emancipação, Igualdade e Recuperação - EIR UMAR
914 736 078
eir.centro@gmail.com

Entre julho de 2011 e outubro de 2020, este homem, agora com 72 anos, drogou a sua então mulher Gisèle com ansiolíticos, para a adormecer e violar com estranhos contatados online.

Dominique Pelicot fotografou e filmou todos as violações, armazenando meticulosamente as imagens no seu computador e discos rígidos.

Os investigadores identificaram cerca de 200 violações de Gisèle Pelicot com base em vídeos e fotos tiradas pelo seu agora ex-marido, dos quais cerca de 100 foram cometidos pelo próprio Dominique Pelicot.

Nas demais imagens foram identificados 72 autores, dos quais 51 foram julgados e condenados pelo tribunal do departamento de Vaucluse, em Avignon, sul da França. Destes, 17 recorreram da sentença e serão julgados novamente entre setembro e dezembro deste ano.

Difícil reconhecimento facial

Muitos escaparam à Justiça. Dois morreram durante o processo e outros não foram identificados.

"Há pessoas que apareciam muito desfocadas e não conseguimos capturar uma foto", explicou o juiz encarregado da investigação perante o tribunal em 8 de novembro, no julgamento de quase quatro meses e ampla cobertura mediática nacional e internacional.

Outros, com nítidas imagens das suas caras, não puderam ser identificados porque não apareciam em nenhum registo policial. Nem os programas de reconhecimento facial e pesquisas nas redes sociais conseguiram associá-los a um nome.

"Em consulta à Polícia Judiciária, decidimos parar a investigação num determinado momento. Poderíamos ter investigado durante dez anos", disse o juiz.

Caso emblemático

Este julgamento tornou-se um símbolo da violência sexual e trouxe à luz a questão da submissão química e das agressões a vítimas inconscientes.

A polícia também encontrou 11 homens contatados por Dominique Pelicot através do Skype, que "claramente fizeram o mesmo com as suas parceiras", confirmou à AFP o delegado Jérémie Bosse Platière, que conduziu a operação.

"Você é como eu, gosta do modo violação", disse Dominique Pelicot a JF LUNA, ao comentar fotos da sua mulher nua e adormecida.

Pelicot planeou violar várias mulheres inconscientes, segundo conversas nas quais mencionava "uma cabeleireira de Lyon de 37 anos". Ele garantiu que esses planos nunca se concretizaram.

Alguns destes homens foram presos e serão julgados em outras jurisdições.

"Este é um dos aspectos mais dolorosos para mim, saber que outras mulheres podem continuar sujeitas a estes tipos de atos", disse o delegado Bosse Platiere durante o julgamento, em 4 de outubro.