"Apresento-me diante vós como candidato à presidência da República. Nos últimos três anos senti o apelo para a minha candidatura. No mesmo período, o mundo mudou muito. Vêem-se nuvens de perigo no horizonte. A guerra voltou ao coração da Europa. O Ocidente facila e perde o rumo. Os EUA não garantem segurança e lançam incerteza. As democracias são atacadas de fora e corroídas por dentro. Portugal não está imune, nem isolado numa redoma protetora. São claros os sinais de cansaço, desânimo e desencanto na nossa jovem democracia. E é por tudo isto que aqui estou”, começou por dizer.

"Estou aqui porque não consigo ficar de braços cruzados. Estou aqui com a mesma coragem que servi a Marinha, as Forças Armadas e o país. Apresento-me com a experiência de quem liderou em momentos difíceis e acredito que vamos conseguir ultrapassar, juntos, grandes desafios. Estive sempre onde o país me chamou. Estive em Pedrogão, coordenei a campanha contra a COVID-19, ou seja, quando Portugal precisava de mais coordenação e liderança", começou por dizer o agora candidato a Belém.

“Se os Portugueses me derem o seu voto, cumprirei com lealdade as funções que a Constituição me confia: defender a independência nacional; garantir o funcionamento das instituições democráticas: ser árbitro e moderador.”

"Precisámos de um Presidente diferente, acima de disputas partidárias, longe das pressões e fiel ao povo que o elegeu. Um presidente que não seja um espetador da vida política, pois representa todo o povo. Que se faça ouvir utilizando a palavra", explicou.

"Somos o povo que atravessou oceanos, que se ergueu de terramotos, guerras e ditaduras. Que quando se uniu, venceu. É indiscutível que vivemos tempos difíceis. O que nos trava está cá dentro. São as más decisões, falta de decisões e a falta de coragem para se fazer o que tem de ser feito", disse.

"Estou aqui porque acredito em Portugal, para um futuro com esperança, para uma democracia que não fraqueje nestes momentos de incerteza. Não estamos condenados a falhar e a ser pequenos. Saúde, habitação e educação têm de ser direitos e não privilégios. Sonhámos com um país livre, justo, próspero e solidário. Um país com voz própria e respeitado no mundo. Queremos um país onde os jovens tenham futuro".

"Aprendi no mar que perante a tempestade nunca se desiste, nunca se baixa os braços. E é isso que farei se me confirmarem com o vosso voto. Conto convosco, com quem serve, cuida, ensina, com os que lideram e constroem, com os jovens, com a vossa energia, irreverência e vontade de mudar o Mundo. Unidos, somos uma força imparável. Viva a esperança, viva a democracia e viva Portugal", finalizou.

Muito aplaudido à entrada da Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, com sala cheia, Gouveia e Melo sentou-se na primeira fila antes do seu discurso, com um vídeo de cerca de cinco minutos a apresentar a sua candidatura.

Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo, 64 anos, nasceu em Quelimane, Moçambique, em 21 novembro 1960, onde viveu durante a adolescência antes de a família se mudar para o Brasil após o 25 de Abril de 1974.

Ingressou na Escola Naval em 07 setembro de 1979 e com 24 anos integrou a esquadrilha de submarinos, onde viria a passar 31 dias seguidos submerso e mais tarde, já na chefia da Marinha, a integrar a primeira missão de um submarino convencional debaixo do Ártico.

Em 2020, tomou posse como adjunto para o planeamento e coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas, cargo que exercia quando no ano seguinte foi escolhido para coordenar a ‘task force’ para a vacinação contra a pandemia da covid-19.

Chegou a Chefe do Estado-Maior da Armada em 27 de dezembro de 2021, sendo promovido a almirante, funções que exerceu até 2024, altura em que decidiu passar à reserva.

Durante largos meses manteve o “tabu” sobre a sua candidatura a Belém, apesar de em março já ter submetido um pedido ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial para registar como marca o "Movimento Gouveia e Melo Presidente".

Em fevereiro, num artigo publicado no semanário Expresso, intitulado "Honrar a Democracia", Gouveia e Melo considerou que "a bem do sistema democrático", o país deve ter um Presidente da República "isento e independente de lealdades partidárias", rejeitando que o chefe de Estado seja um "apêndice de interesses partidários".

O militar na reserva - que neste artigo se posicionou politicamente "entre o socialismo e a social-democracia, defendendo a democracia liberal como regime político" - sustentou a tese de que "nenhum Presidente pode ser verdadeiramente «de todos» se estiver claramente associado a uma fação política, pois não terá a independência necessária para representar o interesse coletivo".