Questionado se admite deixar cair os limites à lotação nos transportes públicos, Pedro Nuno Santos afirma que é algo a "equacionar". "Porque, de outra forma, vamos ter problemas sérios de mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa", justifica o ministro das Infraestruturas e da Habitação.

"É difícil controlar a lotação de um comboio, por exemplo [da linha] de Sintra — que leva duas mil pessoas, tem vinte e tal portas e quatro plataformas a estação —, não conseguimos controlar, é impossível", reconhece o ministro, que respondia assim numa entrevista à TSF/Dinheiro Vivo, esta sexta-feira.

"Aquilo que temos de fazer é garantir que as pessoas todas usem máscara, garantir a higienização dos comboios — fazemos diariamente, sempre que possível mais do que uma vez dos comboios", explica Pedro Nuno Santos, acrescentando que "é importante que todos saibam também que a CP tem dois mil trabalhadores diariamente dentro dos comboios e só tivemos três infetados".

"Não estou a dizer que não existe risco no transporte público, agora, os estudos que vamos tendo, os estudos internacionais vão-nos mostrando que não é esse o problema".

E "a verdade é que somos dos poucos países da Europa que fazem essa restrição. A maioria das capitais — onde há, inclusivamente, uma intensidade de utilização de transporte urbano muito maior do que na Área Metropolitana de Lisboa — não tem essa limitação", conclui.

Portugal contabiliza pelo menos 1.679 mortos associados à covid-19 em 47.765 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde.

A região de saúde de Lisboa e Vale do Tejo é a que continua a gerar mais preocupações, reportando a grande maioria dos novos casos— mas sobretudo nas 19 freguesias da Área Metropolitana de Lisboa atravessadas pela Linha de Sintra.

Portugal continental está, assim, dividido em três níveis para fazer face à pandemia de covid-19, estando a generalidade do país em situação de alerta, a Área Metropolitana de Lisboa (AML) em situação de contingência (nível intermédio) e 19 freguesias de cinco municípios da AML em calamidade.

Nas 19 freguesias foi determinado o “dever cívico de recolhimento domiciliário” e a proibição de ajuntamentos com mais de cinco pessoas.

Nas restantes autarquias da AML, os ajuntamentos estão limitados a 10 pessoas, mantendo-se em toda a região o encerramento dos estabelecimentos comerciais às 20:00, a proibição de venda de álcool nas estações de serviço e o seu consumo na rua.

As 19 freguesias que permanecem em estado de calamidade são: Santa Clara (Lisboa), as quatro freguesias do município de Odivelas (Odivelas e as uniões de freguesias de Pontinha e Famões, Póvoa de Santo Adrião e Olival Basto, e Ramada e Caneças), as seis freguesias do concelho da Amadora (Alfragide, Águas Livres, Encosta do Sol, Mina de Água, Venteira e União de Freguesias de Falagueira e Venda Nova), seis freguesias de Sintra (uniões de freguesias de Queluz e Belas, Massamá e Monte Abraão, Cacém e São Marcos, Agualva e Mira Sintra, Algueirão-Mem Martins e a freguesia de Rio de Mouro) e duas freguesias de Loures (uniões de freguesias de Sacavém e Prior Velho, e de Camarate, Unhos e Apelação).

Governo afastou sempre que os transportes estivessem ligados aos novos casos

A 1 de julho, a ministra da Saúde afirmava que "os transportes públicos não estão associados a nenhum dos novos casos de infeção".

“Aquilo que referi foi que não são conhecidos casos de contágio que tenham tido origem em transportes. E não que os transportes não sejam, pela sua sobrelotação, pela suas condições, espaços a merecerem uma especial cautela”, precisou posteriormente a ministra, lembrando que, “desde o primeiro momento”, o Governo decretou coimas para quem usasse os transportes públicos sem máscara ou viseira, por serem “locais particularmente expostos”.

Também nesse dia, o ministro das Infraestruturas e da Habitação insistia que as taxas de ocupação dos comboios nas linhas urbanas continuavam “muito abaixo do período ‘pré-covid’”, mas reconhecia que tal não significava que “tudo está bem”.

“Hoje ainda não falta, do ponto de vista global, oferta de comboios nas linhas urbanas. A procura ainda é muito mais baixa do que no período anterior à pandemia e a lotação de 2/3 é cumprida na esmagadora maioria dos comboios, mesmo nas horas de ponta”, afirmou Pedro Nuno Santos, na abertura da interpelação ao Governo no parlamento, agendada a pedido do BE, sobre “a resposta à covid-19 na Grande Lisboa, nos transportes ​​​​​​​e habitação”.

Contudo, acrescentou, apesar de as taxas de ocupação dos comboios nas linhas urbanas continuarem na altura a ser muito baixas — na Linha Sintra/Azambuja a lotação média em hora de ponta antes da pandemia era acima de 80% e hoje é de 30% — “isto não significa que tudo está bem”, já que “um ou outro dos cerca de 660 comboios urbanos que a CP opera por dia na Grande Lisboa” atinge 66% da lotação.