Capital de um país submergido num conflito bélico, Kiev conseguiu afirmar-se como um dos governos mais digitais do mundo. Usou a tecnologia para criar a resiliência na cidade, assim como manter os habitantes ligados e informados, algo que ganha especial importância no atual contexto geopolítico.

A app Kyiv Digital é um "vá pelos seus dedos" que permite, neste cenário, a quem o usa, ir mais além do que um "salva-se quem puder".

“É um super hub baseado em notificações, mas também, e principalmente, em informações precisas e diretas do que fazer em caso de acidentes, desastres naturais ou ataques aéreos”, descreveu ao SAPO24 Oleg Polovynko à margem da conferência de imprensa “o futuro da transformação digital de Kiev” que decorreu na Web Summit, em Lisboa.

Recua à génese da aplicação que está disponível na App Store e Google Play. “Começou em 2020, mas a partir do momento da invasão russa, o nosso presidente de câmara pediu ao nosso departamento de TI para desenvolver uma aplicação de comunidade. E começámos a desenvolver ligações aos transportes e a expandir a vários serviços (públicos)”, recordou o conselheiro digital do edil da capital ucraniana, Vitali Klitschko, ex-campeão mundial de boxe.

“Se estiver em Kiev recebe notificações e informações de todo o tipo de serviços públicos, parques, hospitais, abrigos, meeting points”, detalhou. “Para os ucranianos e residentes e pessoas identificadas há mais funcionalidades e serviços”, ressalvou.

A invasão russa acelerou outra função de uma app inicialmente criada para a comodidade do cidadão. Deu, então, um passo de gigante e passou a estar ao serviço da segurança de quem vive na cidade.

“A Covid-19 provocou a transformação. Quando a guerra começou, a equipa TI já tinha feito o trabalho remoto na pandemia, a comunicação com os cidadãos já estava construída desde esse tempo”, recordou Oleg Polovynko durante a conferência de imprensa. “Daqui a uns tempos diremos que temos isto graças à guerra”, ironizou.

A invasão russa decorre no terreno, mas também no lado digital. Por isso, a cibersegurança é uma aposta clara elevando-se a segurança da app a níveis acima da direcionada para a internet. Previne-se que o data possa cair em mãos erradas e assegura ainda que, em caso de privação de conectividade, o cidadão possa aceder a mapas offline de, por exemplo, farmácias e abrigos durante um ataque à cidade.

3,9 milhões de downloads para cumprir o desafio de informar

A aplicação tem “3,9 milhões de downloads numa cidade de 3,6 milhões de habitantes”, quantificou. “Tem 80% de penetração. Números mostram que a população acredita no serviço”, salientou durante a conferência de imprensa.

“A app é a forma de comunicar com os nossos residentes. O maior desafio para as cidades é informação e todos os presidentes de câmara deveriam ter esta experiência. Comunicação direta e confiável com os seus residentes”, adiantou.

Em pouco mais de 15 minutos de intervenção, Polovynko saiu, por instantes, do cenário de guerra e trouxe à coação os acontecimentos na cidade espanhola de Valência. “Têm a certeza de que estão seguros e que as autoridades cuidam de vocês? Como lidavam com notificações sobre o que fazer em caso de perigo e como poderiam ajudar-se? Têm instrumentos para comunicação direta? Colocámos todas estas perguntas durante a escalada da invasão”, constatou.

Destacou as prioridades “confiança e resiliência da cidade”. "A resiliência é um grande domínio, mas tem de estar ligado a comunidade e ser flexível e adaptar aos desafios da cidade”, antecipou. “Pode ser uma pequena ou grande cidade, não importa o tamanho, as autoridades terão de comunicar com os cidadãos”, esclareceu.

E por falar em desafios, nada parece ficar esquecido em termos de inovação. As lições do passado servem de ensinamento para o futuro. “Temos resiliência elétrica”, sustentou, ao recordar as “privações de energia no inverno passado”, ultrapassadas com as parcerias entretanto estabelecidas.

Oleg Polovynko, conselheiro digital da autarquia de Kiev, capital da Ucrânia, aproveitou o microfone numa conferência de efeito planetário seguida de perto por 70 mil pessoas, no Parque das Nações, FIL, para soprar um apelo.

“É importante para a Ucrânia ter atenção global. A guerra começa a ficar divida, há partes do mundo que ficaram divididas”, recordou.

“Fico contente pelo meu país querer ser parte do mundo ocidental”, elogiou. “Continuem atentos ao que se passa na Ucrânia”.