De acordo com a edição deste fim de semana do semanário Expresso, o grupo de trabalho encarregado de apoiar a Direção-Geral da Saúde na vacinação contra a covid-19 dos menores de idade opõe-se à imunização de todas as crianças dos 5 aos 11 anos.
Ao invés, este grupo — composto por mais de 10 pediatras, cardiologistas, enfermeiros e representantes do sector da Saúde — defende que a vacinação deve ser reservada aos casos de risco.
Segundo o semanário, o parecer vai ser completado no início da semana e entregue até quinta-feira à Comissão Técnica de Vacinação para a covid-19, que depois dará o relatório final à DGS. No entanto, o grupo acredita que o Governo vai ignorar estas indicações.
A razão para esta convicção está no anúncio de António Costa na passada quinta-feira, quando anunciou que, perante a autorização da EMA em relação à vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos, o Governo está preparado para vacinar as cerca de 637 mil crianças dessa faixa etária.
Costa adiantou também que já está calendarizada com a Pfizer a chegada de 300 mil vacinas a 20 de dezembro destinadas às crianças elegíveis, e durante o mês de janeiro chegarão mais 462 mil. A vacinação desta faixa etária, ressalvou, está pendente da decisão a ser tomada pela Comissão Nacional de Vacinação na próxima semana, mas, caso haja luz verde, o Governo já contratualizou com a farmacêutica a chegada das doses pediátricas — diferentes da vacina normal.
É dada esta predisposição para vacinar que o grupo acreditar que o seu parecer será ignorado. “Tal como aconteceu com a vacinação dos adolescentes, vamos ter uma decisão política transvertida de parecer técnico”, disse Francisco Abecasis, o representante da Ordem dos Médicos no grupo de trabalho, ao Expresso.
Abecassis recorda que, “no caso dos adolescentes”, o grupo “manifestou-se contra por unanimidade, a Comissão Técnica concordou, mas cerca de 10 dias depois mudou de posição, com a DGS a justificar que tinham surgido novos dados de segurança, que não existiam”.
“Pedimos para tornar público o parecer do grupo, porque os portugueses precisavam de saber que a decisão tinha sido política e não técnica. É diferente serem os pediatras a decidir ou ser António Costa, que disse no Parlamento que íamos dar a vacina e ainda nem tínhamos decidido — mas não foi autorizada por nós”, lamentou o médico, intensivista pediátrico no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
O maior receio dos especialistas são os possíveis efeitos secundários das vacinas. No entanto, Fátima Pinto, diretora da cardiologia pediátrica do Hospital de Santa Marta, desmistifica as preocupações. “Foram descritos raros efeitos cardíacos entre adolescentes, mas são idênticos à carga de doença na comunidade, pelo que não se pode atribuir à vacina. Mesmo assumindo que o eram, foram ligeiros e sem consequência. Não é um problema”, garantiu ao Expresso.
Comentários