![Grupo de cientistas descobre anticorpos que podem neutralizar as variantes da covid-19, incluindo a Ómicron](/assets/img/blank.png)
Uma equipa internacional de cientistas identificou anticorpos capazes de neutralizar as variantes do SARS-CoV-2, incluindo a Ómicron, variante dominante em Portugal, responsável por cerca de 82% dos novos casos.
O estudo, publicado na revista científica Nature, identifica anticorpos que podem atacar partes da proteína "spike" (espícula, em português), a chave mestra do vírus que causa a doença Covid-19 e que 'faz a ponte' para infetar células do corpo humano, que não se alteram com as mutações.
Esta descoberta abre a porta a uma possibilidade de novas vacinas e tratamentos que serão eficazes não só para as variantes que enfrentamos atualmente, mas também contra outras que possam surgir no futuro.
"Esta descoberta diz-nos que, ao direcionar os anticorpos que atuam sobre esses pontos de alta conservação na proteína 'spike', há uma maneira de derrotar a evolução contínua do vírus", explica David Veesler, um dos autores do estudo e professor de bioquímica na Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos da América.
A variante Ómicron acumula 37 mutações na proteína "spike", mutações essas que usa para se agarrar às células humanas e invadi-las. O elevado número de mutações é a principal hipótese para explicar a rápida propagação das pessoas infetadas com esta variante, assim como a capacidade desta para reinfetar ou reduzir a eficácia da vacina.
Tendo isto em conta, a equipa de cientistas tentou perceber como estas dezenas de mutações consegue "afetar a capacidade da variante de se ligar às células e escapar à resposta imunitária". Para isso, foi criada uma versão inativa e sem replicação do vírus, um pseudovírus, capaz de criar espículas na sua superfície, tal como o SARS-CoV-2 faz. Depois foram criados mais pseudovírus com mutações da proteína "spike", semelhantes à Ómicron, e outros semelhantes a variantes anteriores.
Na fase seguinte, o grupo de trabalho olhou e analisou a forma como cada versão de experiência se prendeu a outras proteínas na superfície das células, o cenário que dá origem à infeção. O que se percebeu foi que a o pseudovírus semelhante à variante Ómicron teve 2,4 vezes mais sucesso na transmissão do que as versões anteriores.
Depois de recolhida esta informação, o grupo olhou para a forma como os anticorpos de pacientes vacinados reagiam à Ómicron em comparação com as variantes anteriores, tendo descoberto que todos exibiam uma capacidade menor de bloquear a infeção. Nos pacientes que foram vacinados com as vacinas Sputnik V ou Sinopharm, ou nas que receberam a vacina de dose única vacina da Janssen, não havia capacidade de neutralizar a entrada desta variante nas células .
Já quem recebeu as vacinas da Pfizer-BioNTech, Moderna e AstraZeneca manteve a imunidade, mas viu-a ser reduzida para valores entre 20% e 40 %, muito abaixo dos elevados valores de proteção de que ouvimos falar relativamente a outras variantes. A dose de reforço também se mostrou capaz de restaurar a imunidade para valores mais altos.
Quando testaram mais tarde um painel amplo de anticorpos que tinham sido desenvolvidos contra versões anteriores do vírus, os investigadores foram capazes de identificar quatro classes de células imunológicas que mantinham a capacidade de combater a Ómicron.
Esta descoberta, de que os anticorpos são capazes de neutralizar tantas variedades diferentes de mutações através do reconhecimento de áreas conservadas, sugere que o projeto de vacinas e tratamentos com anticorpos que visam esses pontos poderiam ser eficazes contra um amplo espectro de patógenos e antigénio.
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