Lugares onde foram encontrados vasos campaniformes. Imagem: Divulgação Universidade do Minho
O projeto vai ser desenvolvido com base em parcerias com arqueólogos, antropólogos, linguistas e geneticistas de Huddersfield (Inglaterra), Pavia (Itália), Santiago de Compostela (Espanha), Porto e Algarve.
“No final da Pré-História surgiu na Estremadura portuguesa a cultura campaniforme, associada a recipientes com a forma de sino invertido, novos objetos, técnicas avançadas e comércio à distância. Este povo terá protagonizado uma onda de migração para o resto da Europa, influenciando-a significativamente no seu desenvolvimento económico, social e cultural”, refere Pedro Soares.
“Estaríamos na altura a exportar inovações para zonas como a atual Alemanha. Hoje verifica-se provavelmente o inverso”, exemplifica. O estudo poderá assim demonstrar que não foi apenas nos Descobrimentos que os ibéricos influenciaram o “mundo conhecido”.
O projeto intitulado “Origens da cultura campaniforme: testando a hipotética expansão Neolítica a partir da Península Ibérica usando genomas mitocondriais atuais e antigos”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), centra-se na comparação de populações, através do ADN mitocondrial.
Este pequeno anel de material genético está fora do núcleo celular, nas mitocôndrias, e é transmitido pelas mães aos filhos – meninos e meninas - permitindo assim remontar às mães ancestrais de dada população. O estudo também vai estudar linhagens patrilineares – de pais para filhos homens – através do cromossoma Y, determinante do sexo masculino.
Pedro Soares vai avaliar as linhagens encontradas em ossadas e restos arqueológicos de há 4000 - 5000 anos e ver ligações entre populações ibéricas e as da Europa central, britânica, de leste e mediterrânica. “Não se sabe ainda a motivação dessa migração ibérica, mas a influência que teve na cultura europeia tem reunido consenso entre cientistas”, frisa o investigador.
Há linguistas e arqueólogos ingleses que defendem uma ligação desta migração à afirmação da cultura celta, povo que surgiu na Península Ibérica e que depois rumou pela costa atlântica até às ilhas britânicas.
Vasos campaniformes e utensílios de um túmulo. Foto: Divulgação Universidade do Minho
A cultura campaniforme terá nascido na região do estuário do Tejo, a crer nos vestígios de inícios da Idade do Cobre encontrados no Zambujal (Torres Vedras), São Pedro (Azambuja) ou Chibanes (Palmela).
O fenómeno coincidiu com inovações como a prática da agricultura, a invenção da roda, o uso da força animal para transporte, e a domesticação de animais, como o cavalo, alargando as trocas comerciais. Por exemplo, nesta altura chegou marfim à Estremadura.
Os vasos e copos campaniformes, por vezes decorados, foram sobretudo achados em contexto funerário, a par de objetos como punhais de cobre, proteções de braço dos arqueiros e botões em forma de “V” perfurados.
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