A conclusão foi apresentada no estudo “Women’s work: Mothers, children and the global childcare crisis” divulgado este mês, da responsabilidade da organização Overseas Development Institute . Há pelo menos 35,5 milhões de crianças de 53 países em vias de desenvolvimento com evidente falta de apoio familiar. Têm menos de cinco anos, passam mais de uma hora por dia sozinhas ou sob a supervisão de crianças mais velhas e acabam muitas vezes por faltar às aulas, perpetuando o ciclo de pobreza.
Para as autoras Emma Samman, Elizabeth Presler-Marshall e Nicola Jones, este facto revela que o que está aqui em causa não é “uma falta de amor por parte dos pais, mas sim uma crise mundial de assistência à infância que atinge os mais pobres”.
O estudo lembra que “as mães são forçadas a escolher entre o seu potencial salarial e a educação dos seus filhos” sendo que esta é uma escolha “que nenhuma mãe devia ser forçada a fazer e que nenhuma criança devia viver”, apesar de, na generalidade dos países, os avós também terem um papel importante na educação dos netos.
Mas o estudo revela ainda outras situações. “Em 66 países, que representam dois terços da população mundial, as mulheres têm um trabalho extra de 10 ou mais semanas por ano em trabalho doméstico não remunerado”. De acordo com os dados recolhidos, "uma mulher perde mais 45 minutos por dia do que um homem em trabalho não remunerado. No entanto, em países onde a desigualdade é maior, esse período de tempo pode chegar às duas horas".
Portugal também foi analisado e a conclusão é a de que, em termos anuais, as mulheres portugueses trabalham cerca de 11 semanas não remuneradas, anualmente, contra cerca de três semanas no caso dos homens.
Analisando a realidade de 37 países, as autoras concluiram também que as mulheres dispensam mais tempo em cuidados com os filhos do que os homens, sendo que no topo desta lista está a Irlanda, onde, do total de tempo despendido com os filhos, 93% recai sobre as mulheres, contra 7% sobre os homens. No extremo oposto está a Suécia com 63% do tempo dispensado pelas mulheres contra 37% do tempo disponibilizado pelos homens. No caso português, as mulheres dispensaram cerca de 83% do tempo dedicado aos filhos, contra cerca de 17% de tempo dos homens.
O estudo alerta ainda para o facto de, apesar de haver bons exemplos de apoios por parte do estado, a mulheres e também a homens com filhos, há ainda muitas desigualdades em todo o mundo.
Por exemplo, de acordo com o estudo, menos de 1% das mulheres, na Índia, é remunerada no período de licença de maternidade sendo que este número põe a descoberto o tamanho do desafio que alguns países têm de ultrapassar neste momento.
O estudo deixa ainda uma série de recomendações onde se inclui a extensão da licença de maternidade e de paternidade por parte das empresas, o investimento e integração em programas de proteção sociais que enquadrem diferentes gerações, o fornecimento de educação desde estágios iniciais do desenvolvimento da criança que vá ao encontro das suas necessidades e que potencie o desenvolvimento de uma carreira ou o encorajamento dos pais, e não apenas as mães, a terem um papel mais ativo na educação de uma criança.
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