A proposta do BE de saudar a manifestação “Casa para Viver”, bem como todos os coletivos e organizações que se associaram a ela, teve os votos contra de PSD, Iniciativa Liberal (IL), MPT, PPM, Aliança, CDS-PP, Chega e seis deputados do PS, a abstenção de outros seis deputados do PS e os votos a favor de BE, Livre, PEV, PCP, PAN, dois deputados independentes do Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre) e os restantes 15 deputados do PS.
Sem exigir disciplina de voto, o líder do grupo municipal do PS, Manuel Lage, disse que, apesar de a maioria dos deputados socialistas ter votado a favor da saudação, o PS não se revê nos considerandos desta proposta, porque “o sucesso das medidas do Governo do PS não pode, obviamente, ainda ser analisado e avaliado”, referindo-se ao programa Mais Habitação.
“No meio da crise que já ninguém consegue negar, as medidas apresentadas pelo Governo falham porque não trazem mudança aos preços totalmente especulativos que se praticam e continuam a não operar mudanças estruturais na forma como se olha para uma casa”, lê-se no texto do voto de saudação.
Sobre os confrontos entre alguns manifestantes e a polícia, que ocorreram no final do protesto em Lisboa, o socialista Manuel Lage repudiou “todas as formas de manifestação que recorram à violência”.
Na apresentação do voto, o deputado do BE Vasco Barata disse que a manifestação em Lisboa juntou “cerca de 30 mil pessoas” em defesa do direito à habitação, “que é um direito fundamental que ainda está por cumprir em Portugal”, referindo que houve também protestos em outras cidades do país, nomeadamente Porto, Coimbra, Viseu, Aveiro, Braga e Ponta Delgada.
O bloquista disse ainda que a mobilização dos cidadãos à manifestação “Casa para Viver” contrastou com os protestos do alojamento local, em que “dois grupos de amigos juntaram 15 pessoas” para fazer barulho à porta da conferência de imprensa do Conselho de Ministros, na quinta-feira, em Almada, distrito de Setúbal.
“Esta manifestação foi completamente instrumentalizada pela extrema-esquerda”, afirmou a deputada da IL Angélique da Teresa, projetando alguns dos cartazes erguidos no protesto e considerando que o voto de saudação “proposto pela extrema-esquerda quer louvar ocupações ilegais, o que é inaceitável num estado de direito”.
Num dos cartazes podia ler-se “Especulação não. Morte aos senhorios. Estamos fartos!”, tendo a deputada da IL recusado a ideia de “louvar a morte de atividades comerciais legítimas que dão emprego e são o sustento de muitas famílias”, defendendo que “os extremistas não são conciliadores” e que o voto de saudação “é uma desconsideração por todos aqueles que querem solucionar o problema da habitação em Portugal”.
Em resposta, o deputado do BE Vasco Barata afirmou que “o radicalismo também tem muito que se lhe diga quando um partido e uma deputada convivem muito bem com a especulação imobiliária”, o que a eleita da IL contestou, referindo que não é detentora de estabelecimentos de alojamento local, “ao contrário de muitos dirigentes do BE”, e que a IL também não ocupa património municipal.
O líder do grupo municipal do PSD, Luís Newton, manifestou solidariedade para com as forças de segurança, “que foram destratadas” na manifestação, considerando que é impensável dissociar um momento do outro, acusando algumas forças políticas de atuarem “num esforço de radicalismo” e recusando o voto de saudação por não acompanhar “extremismos”.
Bruno Mascarenhas, do partido Chega, classificou a manifestação de “vergonhosa”, elogiou o profissionalismo da polícia ao “controlar os excessos de indivíduos ligados a movimentos radicais de extrema-esquerda” e afirmou que a “imigração descontrolada” é um dos fatores para que as rendas tenham aumentado 40% nos últimos cinco anos.
Acompanhando a saudação à manifestação em prol da luta pela habitação, a deputada do PCP Natacha Amaro condenou os que procuraram pôr em causa os objetivos do protesto, “dando pretexto para tentativas de descredibilização desta importante luta”.
Também o deputado do PAN António Valente votou a favor da saudação, mas lamentou os incidentes que ocorreram no final da manifestação “Casa para Viver”, que ocorreu no sábado, em Lisboa.
No mandato 2021-2025, existem 13 grupos municipais que integram este órgão deliberativo da cidade de Lisboa: PS (27 deputados), PSD (17), CDS-PP (sete), PCP (cinco), BE (quatro), IL (três), Chega (três), PEV (dois), PAN (um), Livre (um), PPM (um), MPT (um) e Aliança (um), e dois deputados independentes do movimento Cidadãos por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre), num total de 75 eleitos.
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