Num relatório trimestral, a ONU disse que pelo menos 846 pessoas já tinham sido mortas entre janeiro e março, elevando para mais de 1.400 o número de vítimas desde o início do ano.

O balanço “representa um aumento de 28 por cento da violência em relação ao trimestre anterior”, segundo o relatório da ONU.

O Haiti vive “um ciclo interminável de violência”, disse o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, num comunicado citado pela agência francesa AFP.

Turk defendeu que “a emergência em matéria de direitos humanos exige uma resposta forte e urgente”.

“Reitero o meu apelo à comunidade internacional para que envie uma força de apoio dedicada, em conformidade com os direitos humanos e por um período limitado, com um plano de ação abrangente para ajudar as instituições haitianas”, disse.

O Conselho de Segurança da ONU manifestou, na segunda-feira, “profunda preocupação” com a situação no Haiti, mas nada disse sobre o envio de uma força, que já tinha sido pedida pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, em outubro.

Apesar dos vários apelos que se têm sucedido, nenhum membro do Conselho de Segurança mostrou interesse em liderar essa força internacional.

A violência dos gangues armados aumentou consideravelmente no Haiti desde o assassinato do Presidente Jovenel Moise, em 7 de julho de 2021.

Em dezembro, a ONU calculou que os grupos armados organizados controlavam 60% de Port-au-Prince, mas a maioria dos residentes na capital tem dito que esse controlo está próximo dos 100%.

Turk defendeu que a população deve poder contar com a polícia e as autoridades judiciais para combater a violência dos bandos.

“Mas a realidade é que o Estado não tem capacidade de resposta. Por isso, a população faz justiça pelas próprias mãos, mas isso só vai alimentar a espiral de violência”, alertou.

No relatório, a ONU disse que a violência está a tornar-se mais extrema e mais frequente no país do Caribe.

Os raptos (395 no primeiro trimestre de 2023) aumentaram 12% em relação ao trimestre anterior, e a violência sexual continua a ser utilizada como arma pelos bandos para impor o terror à população.

Entre o modo de atuação dos grupos armados, a ONU assinalou que atiradores furtivos disparam indiscriminadamente contra transeuntes ou casas.

Foram também registados incidentes em que pessoas foram queimadas vivas nos transportes públicos.

A ONU registou ainda o aparecimento de grupos de autodefesa, conhecidos como “brigadas de vigilantes”, na sequência de apelos de políticos e jornalistas para que os cidadãos se organizassem para combater a violência dos gangues.

Esses grupos foram responsáveis por linchamentos em massa e pela morte de pelo menos 75 pessoas, incluindo 66 membros de gangues, no primeiro trimestre, segundo o relatório da ONU.