O ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, disse que representantes de 14 grupos palestinianos chegaram a acordo quanto à formação de "um governo interino de reconciliação nacional" para a Faixa de Gaza uma vez que termine a guerra iniciada em outubro de 2023.
Wang recebeu, em Pequim, Musa Abu Marzuk, autoridade do Hamas, e o enviado do Fatah, Mahmud al Alul, e emissários de outros 12 grupos palestinianos.
"Hoje assinamos um acordo de unidade nacional, e afirmamos que o caminho para completar este percurso é a unidade nacional. Estamos comprometidos com essa unidade nacional e fazemos um apelo para alcançá-la", disse Abu Marzuk.
O acordo é o "ponto de maior destaque" da chamada "declaração de Pequim", destacou Wang, que detalhou que, na reunião desta terça-feira, também estiveram presentes representantes de Rússia, Egito — mediador habitual entre Hamas e Israel — e Argélia.
Pequim quer "desempenhar um papel construtivo para garantir a paz e a estabilidade no Médio Oriente", enfatizou o ministro chinês.
Mahmud al Alul, do Fatah, agradeceu à China o seu apoio à causa palestiniana. "Vocês têm o carinho e a amizade de todo o povo palestiniano", disse Al Alul, que não se pronunciou sobre o acordo.
O Hamas governa a Faixa de Gaza, enquanto o Fatah é a espinha dorsal da Autoridade Palestiniana, que é presidida por Mahmud Abbas e exerce controlo parcial sobre a Cisjordânia ocupada. A rivalidade entre ambos os movimentos é aberta desde que o Hamas expulsou, mediante o uso da força, o Fatah da Faixa de Gaza em 2007.
Israel não demorou a criticar o acordo, e, em particular, o movimento de Mahmud Abbas.
"Hamas e Fatah assinaram um acordo na China com vista a um controlo conjunto de Gaza depois da guerra. Em vez de rejeitar o terrorismo, Mahmud Abbas abraça os assassinos e violadores do Hamas, e mostra assim a sua verdadeira face", escreveu no X o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz.
"Isso não ocorrerá, porque o poder do Hamas será esmagado, e Abbas observará Gaza de longe", enfatizou Katz.
Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, deu boas-vindas ao acordo, que considerou "um passo importante para fortalecer a unidade palestiniana", disse o seu porta-voz Stéphane Dujarric.
O acordo ocorre mais de nove meses depois do início da guerra em Gaza, com o ataque surpresa de comandos do Hamas em solo israelita em 7 de outubro de 2023.
O ataque resultou na morte de 1.197 pessoas, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP feito com base em fontes israelitas. Os islamistas também sequestraram 251 pessoas, das quais 116 continuam em Gaza, incluindo 44 que o Exército dá por falecidas.
A resposta israelita causou a morte de mais de 39.000 palestinianos em Gaza até agora, também civis na maior parte, e uma situação humanitária dramática, segundo dados do Ministério da Saúde deste território governado pelo Hamas.
A China tem tentado exercer um papel de mediador no conflito de Gaza, que também conta com a rivalidade entre Hamas e Fatah.
Israel prometeu continuar com a guerra até destruir o Hamas, e, assim como os Estados Unidos, já divulgou que não quer que o território continue a ser governado pelo Hamas, uma vez terminado o conflito.
Historicamente, a China mostra simpatia à causa palestiniana e defende a criação de um Estado palestiniano, ao mesmo tempo que mantém boas relações com Israel.
Pequim quer posicionar-se como um ator mais neutro que Washington, um aliado próximo de Israel. Há anos que a China demonstra um forte desejo de exercer um papel relevante no Médio Oriente. No ano passado, surpreendeu ao conseguir uma aproximação entre Arábia Saudita e Irão, as duas grandes potências rivais da região.
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