O entusiasmo do antigo presidente norte-americano e o nervosismo do príncipe não passam despercebidos no vídeo divulgado pelo Palácio de Kensington. “Tenho de falar com sotaque britânico?”, pergunta Obama antes de começar. Harry responde-lhe que não, porém "se fizer pausas muito grandes entre as respostas é provável que veja 'a cara'", brinca o príncipe.
Agora, a entrevista está no ar. Nela vários assuntos foram abordados e algumas advertências dadas, diz a BBC. Fonte do Palácio de Kensington citada pelo The Guardian tinha já referido que a conversa entre Harry e Obama se centrou no “interesse comum em construir plataformas para a próxima geração de jovens líderes”.
Usar as redes sociais para encontrar “terreno comum”
Barack Obama alertou para o uso irresponsável das redes sociais, referindo que estão a distorcer a compreensão das pessoas, propagando “desinformação”.
O ex-presidente mostrou-se preocupado com o futuro: os factos são facilmente descartados e as pessoas assimilam apenas o que lhes interessa, segundo os seus pontos de vista.
“Um dos perigos da internet é o facto de as pessoas poderem ter realidades completamente diferentes”, disse Obama. E não ficou por aqui. “Tem a ver com a forma como aproveitamos a tecnologia que permite uma multiplicidade de vozes, uma diversidade de pontos de vista”. No fim, o objetivo é, sempre, “encontrar um terreno comum”.
“As redes sociais são uma ferramenta realmente poderosa para que as pessoas com interesses comuns se encontrem e estabeleçam ligações”, referiu Obama.
“Mas é também importante que se desconectem [da internet], que se encontrem num pub, num local de culto, num bairro, e se conheçam. A verdade é que na internet é tudo mais simples e quando se conhece a pessoa cara a cara é tudo complicado”, remata.
Ao longo da conversa, Obama nunca falou de Donald Trump, apesar das referências. O atual presidente norte-americano, conhecido pelos seus tweets, utiliza a rede social para “estabelecer uma ligação com o povo americano”, segundo o próprio. No entanto, é criticado por apenas seguir uma gama algo restrita de utilizadores do Twitter.
E depois da Casa Branca?
Obama disse ainda ter deixado a Presidência dos EUA, "globalmente", com um sentimento de "serenidade", mas também com uma "preocupação" em relação ao futuro do país.
E o que mudou depois da Casa Branca, perguntou Harry. "Eu acordo mais tarde", com o "espírito livre”, disse Obama. "É uma alegria ter a possibilidade de ser dono do meu dia", admite.
"Quando eu me levanto, quero tomar as minhas próprias decisões, decidir como quero usar o meu tempo", acrescenta o democrata.
Mas Obama reconhece que é difícil. Porém, não lamenta determinados aspetos desse cargo ao mesmo tempo "fascinante e gratificante”. "Sinto falta da minha equipa. Até do trabalho eu sinto falta", referiu.
O futuro visto por Barack Obama
Sem descartar os problemas enfrentados pelo mundo, o otimismo continua a ser a palavra de ordem para Obama. Se assumirmos a responsabilidade de estar envolvido em nosso próprio destino, se participarmos, se nos envolvemos, se falarmos, se trabalharmos nas nossas comunidades, se for voluntário, então todos os problemas que enfrentamos podem ser resolvidos, apesar de todas as terríveis notícias que vemos", refere.
"Se tivéssemos de escolher um momento na história humana em que quiséssemos nascer, escolheríamos hoje, porque o facto é que o mundo é mais saudável, mais rico, mais educado e mais tolerante, mais sofisticado e menos violento".
Obama, cuecas ou boxers?
Uma parte da entrevista disponibilizada pela BBC apresenta algumas perguntas rápidas sobre preferências, a que Barack Obama responde com sentido de humor. E Harry reage do mesmo modo.
"White House Down ou Olympus Has Fallen?", começou por perguntar Harry. "Não vi nenhum dos dois [filmes], respondeu Obama. Contudo, o príncipe não desistiu de uma resposta: "Tem de fazer uma escolha". E Obama responde 'à letra'. "Se nunca vi nenhum, como posso fazer uma escolha?".
As preferências continuaram. Cinema ou bowling — com Obama a escolher cinema e a mostrar as diferenças entre o inglês britânico e americano para o termo —, cuecas ou boxers — "Desculpe, não respondo a essas questões" —, LeBron James ou Michael Jordon — "Jordan. (...) Sou um 'tipo' de Chicago", disse o ex-presidente.
Se o sentido de humor havia começado desde o início, aguçou-se com a pergunta "Harry ou William", a que Obama respondeu "William, neste momento", provocando risos ao Príncipe. A Rainha também não ficou de fora. "Queen [a banda] ou The Queen [a Rainha]?", perguntou Harry. Obama não hesitou: "a Rainha". "Boa resposta, novamente", atirou Harry.
As reações do Príncipe
"Não fiz muitas entrevistas, mas foi divertido" conversar com Barack Obama, disse Harry à BBC.
Harry casa-se com a atriz americana Meghan Markle a 19 de maio. Agora, a pergunta é mais do que esperada. Barack Obama será convidado para o casamento?
"Não sei", respondeu Harry à emissora britânica. "Ainda não fizemos a lista de convidados. Então, quem sabe quem será convidado ou não? Não quero estragar a surpresa", brincou.
A entrevista foi gravada em setembro, em Toronto, durante a edição de 2017 dos Invictus Games, um evento desportivo para militares para veteranos das Forças Armadas criado pelo príncipe Harry, sendo hoje, 27 de dezembro, transmitida na íntegra numa edição especial do programa “Today”, da BBC Radio 4.
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