A mãe queria que fosse padre, ele queria ser mestre de embarcação, como o pai. Henrique Bertino, o mais novo de sete irmãos, acabaria por largar os estudos demasiado novo, depois da morte prematura do pai, aos 50 anos, para se juntar aos pescadores de Peniche.

"Ideologicamente encaixei-me naquilo que era inevitável. Naquele tempo, ser funcionário de um sindicato das pescas era sinónimo de ser convidado para militante do PCP. Há situações de justiça social em que penso que o partido é insubstituível. O que acredito que destrói o Partido Comunista é o aparelho", afirma o candidato do Grupo de Cidadãos Eleitores de Peniche (GCEPP), atual presidente da autarquia. 

Admite que é controlador, mas diz que está a aprender a descentralizar, e hoje gosta "menos de controlar e prefere ser controlado". Na câmara reservou para si as os pelouros da Administração Geral, Recursos Humanos, Planeamento e Urbanismo, Proteção Civil, Solidariedade Social (Habitação Social, Ação Social e Saúde), as Obras Municipais, Sistemas de Energia, Tecnologia e Viaturas (setores técnicos operativos: Eletricidade, Serralharia, Oficina de Mecânica, Gestão de Viaturas e Equipamentos Informáticos e Tecnológicos), Higiene e Limpeza, Espaços Verdes (jardins e pinhal municipal), Parque de Campismo, Mercados e Feiras; Cemitérios, Trânsito, Proteção Animal, Comunicação e Imagem e Ligação às Freguesias.

Diz que gosto de ser autarca. Neste mandato aproveitou a lei dos precários e passou para o quadro 70 trabalhadores da câmara que estavam a recibos verdes. Organizar os serviços foi a sua principal tarefa neste mandato. Se ganhar o próximo garante que a prioridade serão os fundos comunitários e o investimento. Projetos, garante, não faltam, de uma marina atlântica à requalificação da habitação. Assim haja PRR. Quer ter mais receita, baixar o IMI e apostar no turismo. 

Estava a ouvi-lo dizer que é como se tivesse de fazer tudo. Mas já está na câmara há quatro anos. 

Não sabe o que é uma câmara. Sabe o que é entrar numa casa, que é a segunda maior empresa do concelho e que desde há 20 anos se foi deixando andar? Não se tomaram medidas, deixou-se os chefes ir mandando e ninguém reagia. Não se agarraram as oportunidades e fez-se de conta. Sou presidente um pouco dentro de uma certa revolta, não estava a pensar ser presidente de câmara, nunca tive esta ambição. Fui presidente de junta 16 anos e isso preenchia-me. Estava a pensar fazer mais um mandato quando se dá esta reviravolta na minha vida - porque dirigi todas as campanhas eleitorais do anterior presidente [CDU], nem sequer era militante. 

"sem ser um deus ou um grande iluminado, quero mesmo concentrar-me em que, pela primeira vez, Peniche vai olhar para os fundos comunitários de forma transcendente"

Mais do que independente é dissidente?

Não sou dissidente, sou inconformado. A dissidência de comportamentos e de atitudes de outras pessoas é que acabaram por criar revolta. Devido à proximidade que eu tinha com a população, porque fui presidente da junta da cidade, tinha maiorias absolutas, acabei a concorrer às eleições. O pior que pode acontecer é sermos confrontados todos os dias com contestação - também nos sentimos culpados por isso. Sentia-me cada vez mais sozinho, por isso, diria que foi um ato de busca pela liberdade. Se fosse embora, diziam que era cobarde. Uma coisa levou a outra.

E hoje, o que o leva a candidatar-se?

Hoje é diferente, é acreditar que o trabalho que estamos a fazer - mesmo que muitos não compreendam - é o trabalho certo, o trabalho da organização daquela casa, saber que a câmara de Peniche tem de ser o motor da economia, do desenvolvimento, e que se isso não for feito nos próximos anos perdemos o comboio irreversivelmente, diria. Acredito que os próximos anos, como diz o primeiro-ministro, são mesmo demasiado importantes para estarmos a brincar. Foi nesse sentido que refiz e reforcei a minha equipa. E sinto-me confortável, porque conheço a máquina toda, os cantinhos da câmara, as peças que falta mexer. E, sem ser um deus ou um grande iluminado, quero mesmo concentrar-me em que, pela primeira vez, Peniche vai olhar para os fundos comunitários de forma transcendente.

Olhar para os fundos comunitário pela primeira vez porquê e para quê?

Porque nunca ninguém fez. Como acontece muito na administração pública, as coisas foram-se arrastando. Somos todos culpados, não é este ou aquele. Estivemos adormecidos. No fundo, como aconteceu com "Peniche, Capital da Onda", não reagimos, não procurámos de imediato fazer um diagnóstico. Não é normal, diria eu, que um concelho tão bonito, com tantas potencialidades, com um sistema dunar espetacular, não termos nem um passadiço sobre-elevado ou caminhos atravessados para as praias. É um exemplo. Mas posso dizer que uma das coisas com que fiquei mais chocado - entrámos em funções em outubro de 2017 e quis logo ver muitas coisas - foi com a ilha da Berlenga. Não ia à Berlenga há anos, por opção, e quando cheguei lá fiquei estupefato com tanta degradação e abandono. Uma das nossas jóias da coroa.

"A câmara é o segundo maior empregador, o primeiro é uma fábrica de conservas"

E o que fez, que medidas tomou?

A Berlenga está a ser tratada. Hoje tem um restaurante bem tratado, estivemos estes quatro anos a investir muito, uma equipa permanente, como nunca tinha acontecido. Também ninguém ligava ao pinhal. Tínhamos um pinhal muito interessante que estava abandonado, nem sequer era limpo. Hoje somos provavelmente na região o único concelho que tem uma equipa de sapadores própria. Mas depois temos ideias, muitas ideias. Mas encontrámos uma máquina que, além de desmotivada - não temos instalações condignas para os nossos trabalhadores, os Paços do Concelho são seis ou sete edifícios espalhados -, não havia articulação.

Quantas pessoas emprega a câmara municipal?

Neste momento, com a chegada dos trabalhadores da educação, são cerca de 600. É muita fruta. A câmara é o segundo maior empregador, o primeiro é uma fábrica de conservas. Temos estado a recrutar e naquilo que são serviços essenciais estamos a decidir se fazemos por administração direta ou se contratamos por empreitada. Mas estamos a apostar muito nos técnicos superiores, jovens. Há quatro anos a minha palavra era "a grande mudança". Este ano é "o futuro é agora", das gerações que vêm. Ontem estava a responder ao questionário de um jornal, que perguntava qual a maior preocupação em relação aos outros candidatos; a maior preocupação é que não reconheço em nenhuma condições para governar a câmara neste momento. Tem de ser uma pessoa experiente, muito trabalhadora - eu trabalho muitas horas por dia, durante o ano tenho dez a doze dias de férias, muitas vezes entro às quatro, cinco da manhã, mas este é o meu sistema de trabalho. Isto está a arreliar muitos jovens com cabeças velhas, porque ainda por cima o meu número dois é um homem de 72 anos, que é presidente de uma junta de freguesia.

"Este mandato foi muito difícil, acima de tudo porque a oposição ficou toda zangada, muito arrogante e revanchista"

Afinal o futuro é de todas as gerações, não só das novas.

Os jovens, trabalhando com os mais velhos de uma forma aberta, dedicada, apaixonada e séria aprendem muito mais do que aprendem nas jotas. O grande problema da minha terra, como provavelmente será  noutros concelhos, é que os partidos estão destruídos. A luta interna pelos poderes destruiu os partidos. Portanto, hoje as estruturas são muito débeis, não transmitem confiança às populações. Em certa medida, é assim que aparecem os grupos de independentes. Podem dizer que uma grande parte são dissidentes de partidos... São. Ou gente que não se revia nos partidos há muito. 

Perguntas à queima-roupa a Henrique Bertino

O que fazem ou faziam o seu Pai e a sua Mãe?

O meu pai era pescador, a minha mãe era operária conserveira.

Quem são os seus amigos?

Tenho muitos; homens, mulheres... Tenho muitos.

Quem foi o pior primeiro-ministro de todos os tempos?

É difícil, assim [de repente] é difícil. Não consigo arriscar.

Qual o seu maior medo?

Costumo dizer que não tenho medos. Não gosto do sofrimento das pessoas.

Qual o seu maior defeito?

Falar de mais.

Quem é a pessoa que mais admira?

A minha mulher.

Qual a sua maior qualidade?

Amigo do amigo... A humildade, talvez.

Qual a maior extravagância que já fez?

Muitas. Compro muitos livros e depois não os leio, não tenho tempo.

Qual a pior profissão do mundo?

Não sei, mas acho que é quando estamos demasiado absorvidos.

Se fosse um animal, que animal seria?

Talvez um gato.

Quem não merece uma segunda oportunidade?

Todos merecem uma segunda oportunidade. 

Em que ocasiões mente?

Não minto.

Quem foi o melhor presidente de sempre da Câmara Municipal de Peniche?

João Augusto Barradas [1986-1977]. 

Se fosse uma personagem de ficção, que personagem seria?

Não sei, sinceramente.

Que traço de perfil obrigatório tem de ter alguém para trabalhar consigo?

Entregar-se em pleno, não 100%, mas 300%.

Qual o seu filme de eleição?

Não sei, tenho muitos. Mas diria que "O Padrinho" [Francis Ford Coppola] é marcante. 

O que o faz perder a cabeça?

A maldade.

O que o deixa feliz?

Ver as pessoas felizes.

Um adjetivo para o seu principal opositor?

É difícil... Talvez a maldade.

Como gostaria de ser lembrado?

Não tenho preocupações em ser lembrado.

Descreva a última vez que se irritou.

Este lugar deu-me uma nova qualidade, a residência à irritação.

Tem uma comida de conforto ou de consolo? Qual?

Gosto muito de sopa.

Se for eleito presidente da Câmara Municipal de Peniche, qual a sua primeira medida?

São tantas... Mas diria que desta vou ter de ir, mesmo no primeiro dia, às escolas.

A que político nunca compraria um carro em segunda mão?

Confio muito. Mesmo nos políticos eu confio.

Se pudesse ser congelado e acordar daqui a 100 anos, o que quereria saber?

Se calhar queria voltar a ser congelado.

"Tivemos vários presidentes que se foram embora. E tivemos um, que ainda é vivo, que me disse: "Tu não vais aguentar três meses"."

Uma das críticas que lhe é feita é não ter feito nada estes quatro anos e de ter centralizado o poder. Quer comentar?

Este mandato foi muito difícil, acima de tudo porque a oposição ficou toda zangada, muito arrogante e revanchista, se quiser. E unida como nunca. O que é difícil de aceitar é a procura da desestabilização da vereação, que começa logo a seguir às eleições. Fui vereador em 1987, a câmara de Peniche era dirigida por um social-democrata, era o primeiro mandato. Era militante do PC e era visto como um enfant  terrible, tinham muito medo de mim porque eu era muito impulsivo, ainda às vezes sou, mas já me controlo melhor. Mesmo na oposição fiquei a dar-me bem com o presidente, de maneira que a certa altura começaram a dizer que eu estava feito com o PSD. Respondi que não estava feito com o PSD, estava feito com a minha terra. Queriam era que eu renunciasse ao mandato. Renunciei e saí do PC. 

O que queria ter feito enquanto presidente que não conseguiu fazer por causa da oposição?

O PSD diz que só chumbou meia-dúzia de propostas, é verdade. Mas não é só o chumbar, é a atitude permanente de procura de desgaste. O que aconteceu foi que quiseram fazer-me a mim o mesmo que aconteceu no passado. Tivemos vários presidentes que se foram embora. E tivemos um, que ainda é vivo, que me disse: "Tu não vais aguentar três meses". 

Disse que trabalha muitas horas. Em Portugal gabamo-nos muitas vezes de trabalhar horas extraordinárias, mas lá fora isso até é malvisto, significa que não se conseguiu cumprir em tempo útil todas as tarefas.

Concordo em pleno. Não sou exemplo, nem fui no passado. Primeiro porque entrei aos 18 anos para chefe de escritório e não percebia nada daquilo (e ainda tinha de ensinar uma moça). Tive de me esforçar mais. Depois, porque o meu pai morreu aos 50 anos, quando eu tinha 14 anos, e a primeira decisão da minha vida foi sair da escola e ir trabalhar para o meio dos pescadores. Quando era pequeno - sou o mais novo de sete irmãos -, e me perguntavam o que queria ser quando fosse grande, dizia sempre que queria ser mestre como o meu pai. E fui para a ribeira trabalhar com os pescadores, na condição de acabar o 9.º ano como o meu pai queria. Tinha uma paixão pelo mar. 

"Muitos confundem o mandar com o dirigir. Tenho um grande jogo de cintura. Tenho provavelmente um defeito, é que concentro tudo muito em mim. Hoje estou mais liberto, já tenho uma equipa, mas é recente, foi uma luta de quatro anos"

Qual a diferença entre ser pescador e ser mestre?

O mestre manda no barco todo.

Sempre teve uma tendência um pouco autoritária ou não é autoritarismo?

Não. Muitos confundem o mandar com o dirigir. Tenho um grande jogo de cintura. Tenho provavelmente um defeito, é que concentro tudo muito em mim. Hoje estou mais liberto, já tenho uma equipa, mas é recente, foi uma luta de quatro anos. Da equipa que levei alguns ainda não compreenderam bem, vão aprendendo muito, alguns só aprenderam agora no fim. Tive alguma sorte nos chefes de divisão que entraram e que corresponderam muito bem e também tive sorte com o chefe de gabinete, que veio da câmara de Óbidos. Ele estava insatisfeito, alguém me disse que estava disponível, tivemos uma conversa de três ou quatro horas no meu gabinete em que lhe fui dizendo o que queria e ele percebeu que eu tinha mesmo uma estratégia, um plano para a minha terra. E muito poucos conhecem isso. Se ganhar as eleições, como espero, daqui a quatro anos estou cá outra vez. Porque acho que é o tempo necessário.

"Assumi objetivamente que não fico como vereador, nem discuti com os meus essa opção. Eu oiço os outros, mas em última análise sou eu que decido"

Para quê?

Arrumar a casa já estamos a arrumar, mais um ano ou coisa assim. Diria que hoje já está 80% arrumada. E sabemos qual é o caminho; há quatro anos sabia qual era o caminho, mas não o imaginava tão difícil. Agora vai haver esta grande oportunidade dos fundos comunitários, a que nos vamos agarrar - temos ainda dentro da cidade esgotos a céu aberto. Queremos resolver isso neste mandato.

E se perder as eleições?

Acho que vamos ganhar e até reforçar a nossa posição. Mas também digo, estou a concorrer a presidente de câmara, se não ganhar, não fico lá a chatear os outros. Assumi objetivamente que não fico como vereador, nem discuti com os meus essa opção. Eu oiço os outros, mas em última análise sou eu que decido. O que aconteceu neste mandato em Peniche nunca foi prática do concelho. Habituámos-nos sempre a que na vereação houvesse alguém da oposição, um partido, dois vereadores. Neste mandato o que aconteceu foi que os quatro vereadores da oposição, da CDU ao PSD e passando pelo PS, uniram-se. Os dois vereadores do PSD instrumentalizaram todo o sistema. Eu não quero fazer isso.

Nesse caso, o que irá fazer?

Vou gozar a vida com a minha mulherzinha. 

Se ganhar, o que fará diferente?

É muito difícil as pessoas perceberem o que queremos fazer, ainda por cima quando estamos presos nos gabinetes. No próximo mandato não quero ficar preso como estou, não quero ser obrigado a trabalhar tantas horas. Mas temos de estar organizados. Vou ter de ultrapassar essa situação. Mas acho que as pessoas também perceberam o que se passa com o PSD e não querem autarcas que estão permanentemente a deitar abaixo, mas depois não têm ideias, é um vazio.

"Abusivamente, continuo a afirmar que é o concelho mais apetecível da região Oeste para os investidores, mas não só"

Gostava de perceber, finalmente, qual o seu plano para Peniche, o que irá fazer nos próximos quatro anos, a tal estratégia.

Não vou fazer como se fez no passado. Sou um homem da pesca, venho da pesca, amo a pesca, os pescadores, aquela vida. Tenho saudades da época de 70, um fervilhar de vida e de atividade. Por razões várias, nomeadamente pelas alterações provocadas pela União Europeia, a pesca, embora seja muito importante, não tem a importância que teve noutro tempo. Para ver, na década de 70, na pesca da sardinha, tínhamos cerca de 120 barcos. Hoje temos dez. 

Mas são mais eficientes ou não?

São. E até pela forma como não protegemos os nossos recursos há até uma parte de outras artes que devia ter sido mais controlada e não foi. Mas houve várias razões para o declínio em termos de pesca e de empresas e de emprego. Atendendo a isso, temos de ter a coragem de enfrentar as coisas como são. O setor de futuro, e que ainda não foi preparado como devia, é o turismo. Somos um concelho muito diferente do resto da região. Abusivamente, continuo a afirmar que é o concelho mais apetecível da região Oeste para os investidores, mas não só.

Porquê?

Porque a centralidade do concelho e aquilo que oferecemos mais ninguém tem. Ninguém tem a onda dos Supertubos, ninguém tem um Baleal, ninguém tem a Berlenga, ninguém tem um porto tão central como o nosso. 

Que investidores conseguiu captar ao longo destes quatro anos?

Se há parte que foi exigente, foi a dos contactos com alguns investidores. Também tenho a perceção de que uma parte dos investidores provavelmente no primeiro embate não reagiu bem às nossas dificuldades e à falta de infraestruturas - até à falta de saneamento. Hoje o que sentimos é que há uma grande confiança em Peniche, há segurança. Estamos a trabalhar com um investidor, um fundo de investimento que me contactou através de um representante em 2019, que me veio dizer que queriam comprar alguns prédios dentro da cidade. Percebi que também queriam fazer um hotel, estavam interessados num edifício muito característico, com muita história, que também queremos defender. Vieram cá e já têm projetos aprovados na cidade, querem construir quatro hotéis. Fiz um desafio grande numa zona do Baleal muito interessante, maltratada no anterior mandato e dei-lhes uma ideia, fazem os investimentos que quiserem, o hotel, mas nós e que controlamos o gosto. Tem de ser mesmo bonito, uma referência mundial, não brincamos em serviço. Este grupo entusiasmou-se. Estamos à espera que passem as eleições para ir falar com as entidades competentes e com o poder político. Vai ser marcante.

"Nunca tinha ido a uma reunião com outros presidentes e autarcas de grupos independentes, fui a três e gostei. Eu era dos que estava disponível para avançar com um partido independente para facilitar o processo"

Falou muito em aproveitar os fundos comunitários, em não deixar fugir o PRR. Com que projetos, para fazer o quê?

Quando falo no meu número dois, tem muito a ver com isso. A estratégia é eu concentrar-me em três áreas, a nossa prioridade vão ser os fundos comunitários. Há um estudo que diz que fomos o segundo concelho da região mais beneficiado, fomos buscar 70 milhões, entre poder político e empresas. Mas queremos mais. Vamos atacar nas frentes todas. Eu coordeno, tenho uma vereadora que é das áreas económicas e que vai trabalhar comigo diretamente, mais dois técnicos que entraram recentemente. E estou a pensar contratar um gabinete, ou mais do que um gabinete, que nos ajude nesta área. O que temos é de definir onde vamos atacar. Neste momento temos mais de 31 milhões de euros para a Estratégia Local de Habitação, para seis anos. Estamos na parte final do PDM [Plano Diretor Municipal], que foi um processo muito poluído por causa dos interesses imobiliários, e está no final o projeto de execução da marginal norte, que vai de Peniche norte até ao Cabo Carvoeiro (vamos buscar uns seis milhões ao PRR ou outros fundos estruturais). Mas vamos apostar muito nas áreas sociais e na educação. Mas vamos a tudo, vamos ao monte. 

Também está para análise uma proposta para uma zona empresarial. Falava-se nisto há 40 anos e nós, mesmo com as dificuldades que a oposição levantou, apresentámo-la. Um dos grandes projetos que temos é uma marina atlântica. Pode ser a câmara a fazer, e avançar com uma candidatura de requalificação de toda a zona portuária, ou privados. Vamos fazer uma revolução em termos de reordenamento do território. Outra das grandes apostas é o plano municipal da mobilidade, que não foi feito.

Para terminar pergunto se os grupos de cidadãos concorrem em igualdade de circunstâncias com os partidos políticos?

Este ano o maior problema que a legislação nos trouxe foi a experiência que o poder político fez no ano passado, quando alterou a lei de forma precipitada para criar dificuldades aos grupos de cidadãos. Isso obrigou-nos a reagir [e o Parlamento voltou atrás]. Nunca tinha ido a uma reunião com outros presidentes e autarcas de grupos independentes, fui a três e gostei. Eu era dos que estava disponível para avançar com um partido independente para facilitar o processo - se bem que acho que se as várias sensibilidades estiverem organizadas, acabam por condicionar os outros em relação às atitudes e decisões que tomam. O que me parece injusto é a recolha de assinaturas, mas acaba por se transformar numa vantagem pelo contacto com as pessoas. Outra dificuldade é a questão do IVA: por que carga de água não nos é deduzido o IVA como aos partidos? Não faz sentido.