Quase no fim do ano e a habitação continua a preocupar as famílias portuguesas, e sem resolução à vista. Seja pela falta dela, pela falta de dinheiro para os juros e para o aumento das rendas, seja porque com a inflação sobra pouco para se poder manter as despesas em dia.
Já há umas semanas o SAPO24 conversou com Américo Nave, diretor executivo da Crescer, que dizia que "quase diariamente chegam-nos emails de pessoas que ainda têm casas e estão na iminência de ficar na situação de sem abrigo. Nós vemo-nos de mãos atadas e não temos respostas para estas situações, nunca tivemos tanta procura. Sempre fomos uma organização de pessoas que sempre trabalhou na rua com pessoas que ja estão, muitas vezes, há muitos anos em situação de sem abrigo e hoje em dia deparamo-nos com muitas pessoas a contactar a crescer que estão na iminência de ficar em situação de sem abrigo."
É impossível esquecer este problema, até porque infelizmente está bem visível nas ruas. Seja pelo número de pessoas em situação de sem abrigo a aumentar, seja por aqueles que se manifestam amiúde a pedir medidas. Neste momento estima-se, segundo o jornal Expresso, que haja cerca quase 11 mil pessoas em situação de sem abrigo em Portugal, o que significa um aumento de 78% nos últimos quatro anos.
Ainda esta semana, durante a Web Summit, Carlos Moedas tinha na ponta da língua o discurso da aposta tecnológica de Lisboa e da atração de talentos para a capital. Mas primeiro referiu que é preciso "equilíbrio", sobretudo por parte da autarquia. "Temos de atrair talentos, mas temos de investir 10 ou 20 vezes mais em casas do que inovação. Por isso temos de criar um equilíbrio. Queremos talentos, mas também queremos que os polícias, bombeiros, professores, etc, tenham habitações a preços moderados", afirmou o presidente.
Hoje houve melhores notícias em Lisboa e no Porto. A norte, a Câmara Municipal do Porto anunciou que vai construir 32 habitações para arrendamento acessível na Travessa das Eirinhas, na freguesia do Bonfim, fruto de um investimento de 5,3 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A sul, a Santa Casa Misericórdia de Lisboa disse que vai disponibilizar 100 frações para arrendamento acessível na capital, no quadro do Programa Arrendar para Subarrendar, uma das novas medidas aprovadas pelo Governo para combater a crise na habitação.
Mas as notícias não se ficam por aqui, até porque o problema existe de norte a sul do país, o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) comunicou hoje que vai reabilitar cerca de 5.800 habitações até 2028, mais de 2.900 das quais em 2023.
Se é uma boa notícia? É, claro. Se é apenas uma gota num oceano de escassez de habitação? Sem dúvida. No fim de setembro, o jornal ECO noticiava que nos últimos seis anos entraram no mercado menos de 100 mil novas casas. Ora, estas casas que hoje foram anunciadas representam apenas uma percentagem mínima do que falta construir. Acreditando, na teoria quase improvável, de que o número de casas necessárias não aumenta quase diariamente. Depois destes anúncios de hoje ainda faltam construir 94 068 habitações.
Faltam casas e faltam medidas que ajudem a construir casas.
*Com Lusa
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