O coletivo de juízes do Tribunal de Leiria começou hoje a julgar um homem de 65 anos acusado dos crimes de tentativa de homicídio qualificado agravado, detenção de arma proibida, coação agravada, ameaça agravada, dano e simulação de crime.
Durante o seu depoimento, o arguido admitiu ao tribunal que tinha "dado uns beijinhos" à ex-funcionária, uma jovem de 22 anos, mas desmentiu que a tivesse ameaçado de morte, assim como à sua mãe, quando a vítima se quis despedir.
Tinha uma paixoneta por esta jovem? "Tinha uma atração de amizade por ela. Dávamos uns beijinhos. Mas nunca forcei nada além disso", respondeu, ao ser confrontado pela juiz presidente.
O homem explicou que tinha uma caçadeira guardada na oficina na localidade de Tinto, no concelho de Pombal, distrito de Leiria, "porque já tinha sido assaltado várias vezes e andava atemorizado", garantindo que nunca apontou a arma à jovem.
"Tirei a caçadeira da caixa, para a assustar e para ela sair da oficina. Nunca a ameacei. Tirei-lhe o telemóvel da mão porque estava com medo que ela estivesse a chamar alguém para me fazer mal", adiantou.
Quanto ao disparo, o homem referiu que tinha a arma apontada para baixo, quando a vítima o empurrou. "No meio daquilo dei um disparo, mas nem sabia para onde estava apontada a arma", explicou.
Versão diferente foi apresentada pela vítima. Num testemunho muito emocionado, sempre a chorar, a jovem disse que foi ameaçada de morte dias antes e que aceitou ir à oficina entregar a chave para proteger a mãe, a quem o arguido também tinha proferido as mesmas ameaças.
"Quando estava para me vir embora, viu-o ir a correr mexer numa caixa e parei. Fiquei paralisada. Foi quando ele me apontou a arma e disse para me sentar ou então matava-me", contou, referindo que acabou por ser baleada na perna.
Segundo a jovem, o homem recusou chamar o socorro, acedendo apenas depois dela prometer que o perdoava, que ficava com ele e que iria dizer à GNR que tinha sido vítima de um assalto.
Desmentindo que nunca teve qualquer envolvimento com o ex-patrão, a assistente acusou o arguido de se insinuar de forma mais íntima e de a tentar controlar, com telefonemas e idas à sua casa.
Segundo o despacho de acusação, em julho de 2016, a jovem começou a trabalhar na oficina de estofos do arguido. "Um mês volvido, o arguido começou a demonstrar interesse sexual pela assistente, com alusão a sentimentos amorosos e desejo de envolvimento sexual com a mesma”.
Depois de uma discussão entre o suspeito, a vítima e um amigo desta, com intervenção da PSP de Pombal, dois dias depois a jovem decidiu não ir trabalhar.
No dia em que decidiu ir à oficina entregar as chaves e despedir-se, o ex-patrão "referiu à assistente que gostava muito dela e para esta continuar a trabalhar na oficina".
"Não correspondendo aos intentos do arguido, a assistente manifestou a sua vontade em ir embora. Com a arma apontada à assistente, ordenou à mesma que não abandonasse a oficina, porque se o fizesse disparava", refere a acusação do Ministério Público.
Pouco depois, "sem que nada o fizesse esperar, o arguido, a três metros da assistente, efetuou um disparo, na sua direção, que a veio a atingir na perna esquerda".
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