Ouvidos hoje em tribunal, vários outros médicos veterinários e o próprio tio do arguido indicaram que o homem desaprovava que a mãe seguisse aquela confissão religiosa, sobretudo numa altura em que as dificuldades financeiras e os problemas de saúde dela se acentuavam.

“A mãe passava lá a vida. Terá havido problemas no seio da família por causa disso”, testemunhou o tio.

“Quando a mãe recorreu à IURD, o [arguido] não apoiou isso. Creio que tinha a ver com gastos monetários”, afirmou um dos veterinários que estudou com o arguido e que prestou depoimento ao tribunal por teleconferência a partir de Ponta Delgada, nos Açores.

Porém, nenhuma das testemunhas fez qualquer associação direta da degradação da situação financeira da família a contributos, alegadamente desmesurados, da mulher à confissão religiosa.

“Não tenho nenhuma prova concreta”, afirmou um dos arguidos, quando questionado pela advogada da IURD, que se constituiu demandante no processo.

Os factos levados a julgamento reportam-se a 21 de agosto de 2015, altura em que, segundo o Ministério Público, o arguido, um médico veterinário de 42 anos, entrou no salão de culto da IURD na Rua Egas Moniz, no Porto, e "começou a gritar e a esbracejar", dirigindo-se de seguida ao pastor que presidia ao culto "com a intenção de o agredir".

"Só não logrou o seu intento por ter sido impedido pelo pastor que auxiliava o culto", assinala a acusação.

Também segundo o MP, a celebração teve de ser interrompida e o arguido teve de ser retirado à força do salão de culto com o auxílio de um segurança.

Ainda proferiu insultos e "pontapeou cadeiras e outros bens móveis que apareciam pelo caminho".

O MP imputa ao veterinário um crime de perturbação de ato de culto.

Testemunhos prestados em tribunal indicam que o arguido entrou no templo da IURD para ir buscar a mãe, uma antiga católica que se teria tornado seguidora acérrima da IURD e que estaria a enfrentar perturbações de ordem psicológica.

Quanto ao que se passou em concreto dentro do templo, a defesa requereu o visionamento de supostas imagens de videovigilância, mas a IURD disse não as ter. A juíza do processo indeferiu hoje a pretensão.

O arguido chegou mesmo a apresentar queixa contra um dos pastores envolvidos no processo por alegada agressão – e o pastor acabou por fazer o mesmo -, mas o MP arquivou aos autos quanto a este aspeto.

O tribunal concluiu a sessão de hoje sem marcar a próxima audiência, o que só fará quando receber do Instituto de Reinserção Social o relatório social do arguido, hoje mesmo pedido.