Depois de no último domingo, segundo os organizadores, mais de um milhão se ter manifestado, e após um protesto na quarta-feira que cercou o quartel-general do Governo no qual se registou mais de uma centena de feridos e a detenção de onze pessoas, dezenas de milhares de pessoas preparam-se hoje para uma marcha de protesto que vai começar em Victoria Park e terminar de novo no complexo do Conselho Legislativo (LegCo).

A esmagadora maioria são jovens, vestidos de preto, envergando o símbolo da paz preso às ‘t-shirts’ e empunhando flores — cravos brancos — em memória de um dos manifestantes que morreu este fim de semana, constatou a Lusa no local.

Os ‘media’ locais noticiaram a morte de um dos manifestantes, que caiu de um prédio depois de afixar uma lona de protesto, uma informação confirmada pela Civil Human Rights Front (CHRF), a organização não-governamental que se tem assumido como a principal organizadora dos protestos.

Os ativistas que organizaram este protesto, o terceiro numa semana em Hong Kong, assumiram temer um "terror de detenções".

A polícia de Hong Kong já informara durante a semana que nos confrontos de quarta-feira foram detidas 11 pessoas, acusadas de crimes como o de participação num motim, cuja moldura penal prevê uma pena máxima de dez anos de prisão.

Algumas das detenções efetuadas pela polícia aconteceram nas instalações das unidades de saúde, uma situação que mereceu críticas tanto de responsáveis hospitalares como pela CHRF.

As forças de segurança haviam confirmado a utilização de gás lacrimogéneo, gás pimenta e armas antimotim para dispersar os manifestantes, bem como ferimentos em 22 polícias.

Pelo menos 80 pessoas foram obrigadas a receber tratamento hospitalar, segundo a imprensa local, que cita números fornecidos pelas unidades de saúde.

Hoje, os ativistas reiteraram a ideia de que a violência partiu da polícia e que Hong Kong voltou a provar que os seus manifestantes são “calmos e pacíficos”.

O protesto deste domingo, sublinharam, não é motivado apenas pela lei da extradição, mas também para proteger os manifestantes de direitos básicos como a liberdade de expressão.

Questionados pelos jornalistas, os líderes do protesto sustentaram que a suspensão do debate sobre a lei da extradição é apenas uma tática política motivada pela pressão pública.

A exigência continua a passar pelo abandono da lei, mas também por um pedido de desculpas da chefe do Governo, Carrie Lam, e pela sua demissão.

O anúncio deste sábado da chefe do Governo de suspender as emendas à lei que permitiriam a extradição para países sem acordo prévio, como é o caso da China continental, não desmobilizou os opositores, que voltaram a apelar à população de Hong Kong que saísse à rua para defender as suas liberdades.

Proposta em fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de julho, as alterações à lei permitiriam que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”. Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.

A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente, decorreu sob o princípio ‘um país, dois sistemas’, precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.

Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.