Em declarações à agência Lusa, o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva, Nelson Pereira, revelou que da chamada “equipa dedicada do serviço de urgência” criada em 2003, restam “13 ou 14 médicos”.
“Começou com 40. Só nos últimos dois anos perdemos oito médicos”, contou.
Destas saídas, apenas uma foi por reforma do profissional, enquanto as restantes prenderam-se com procura por parte dos especialistas de outras carreiras.
“O resto são pessoas que entraram aqui jovens, dedicaram-se a isto, mas viram que não conseguiam progredir e foram abandonando”, acrescentou.
No CHUSJ o “plano de sobrevivência”, como lhe chamou o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva, a implementar “nos próximos meses”, passará por recorrer a médicos do resto do hospital.
“Neste momento vivem-se momentos muito difíceis em termos de organização do serviço de urgência neste hospital. Está em preparação um plano de sobrevivência que visa tapar buracos no serviço de urgência com recurso a médicos do resto do hospital porque a equipa dedicada do serviço de urgência já não é suficiente”, descreveu Nelson Pereira.
Alertando que esta realidade “transversal ao país” não é apenas do Hospital de São João, no Porto, Nelson Pereira defendeu a necessidade de ser feita uma “reforma efetiva da rede de cuidados de urgência em Portugal para evitar ver hospitais em ruturas e pré-ruturas” nos serviços de urgência.
“Sem reforma passamos o tempo a remendar e a tapar buracos e cada vez que se tapam buracos, criam-se outros buracos”, descreveu.
A “inexistência de uma carreira na área da medicina de urgência”, bem como a “inexistência de incentivos à fixação de médicos nesta área” são as razões que explicam esta realidade, analisou o médico.
Em entrevista à Lusa a propósito das alterações que a pandemia da covid-19 criou no funcionamento do hospital, nomeadamente no cuidado a doentes urgentes e agudos, Nelson Pereira disse que “do ponto de vista infraestrutural o serviço de urgência [do Hospital de São João] está mais bem apetrechado” porque “instalações que eram muito reduzidas cresceram, em 2020, de forma significativa”, mas alertou para a dificuldade em fixar profissionais.
“Esta pandemia trouxe uma consciencialização de uma serie de fragilidades que já existiam, mas tornaram-se mais visíveis. Quando os hospitais têm de divergir da sua atividade mais de rotina [referindo-se a cirurgias e consultas por exemplo], mas que é fundamental para a comunidade, para tapar buracos no serviço de urgência, há uma degradação consecutiva da atividade global. Não é só o doente agudo que sofre, mas os doentes em geral”, analisou.
Nelson Pereira recordou que a partir do período da ‘troika’ os inventivos foram proibidos, pelo que “o hospital não consegue diferenciar um trabalho que é profundamente penoso e incentivar profissionais”.
“E, enquanto não houver uma visão global, vamos sempre de derrota em derrota até à rutura final”, concluiu
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