O primeiro grupo de deslocados do incêndio chegou a Avelar - freguesia que pertence ao município de Ansião, localizada junto ao Itinerário Complementar (IC) 8 - ao início da noite de sábado, na mesma altura em que um grupo de futebolistas veteranos jantava na sede do clube local, num jantar de encerramento de época.

"Começou por chegar um primeiro grupo de carros, de pessoas que não são de cá, fomos falar com eles e oferecer a nossa hospitalidade. E desde aí não pararam de chegar carros de gente que fugiu ao incêndio", disse à agência Lusa Ricardo Tristão, do núcleo de veteranos do Atlético Clube Avelarense.

"Houve gente que disse que não quis morrer em casa e fugiu com chamas de um lado e do outro, no meio do fumo. Há relatos de gente de Vila Facaia [Pedrógão Grande, a 17 quilómetros de Avelar] que pegou na mulher, nos filhos e no cão e só parou aqui, ou pessoas mais velhas, que iam de Coimbra para casa, não conseguiam passar e pararam aqui", adiantou.

Ricardo Tristão disse que nunca viveu uma situação "sequer parecida" na ajuda a desconhecidos: "Houve um senhor que me pediu algo para calçar e fui a casa buscar umas sapatilhas. Quando saí estavam aqui cinco ou seis carros, quando cheguei estava tudo cheio, eram às dezenas", frisou.

Os relatos estendem-se, igualmente, a familiares separados pelo incêndio na fuga e outros, como Lurdes Luís, residente na localidade de Coelheira, Figueiró dos Vinhos, que deixou o marido e o filho a "defender a casa" e foi para Avelar, por indicação da GNR. Espera agora poder regressar.

"Está tudo a arder, não se consegue passar", lamentou, enquanto olha para as chamas visíveis a partir de Avelar, para a encosta na zona da localidade de Fato, a cerca de dois quilómetros em linha reta.

Com o passar das horas, a afluência a Avelar tem aumentado e o município de Ansião montou uma operação logística de alimentação e alojamento, que envolve as instalações do clube local - onde há pessoas a pernoitar em colchões - um pavilhão desportivo e uma escola.

"Estamos a providenciar alojamento e alimentação a quem necessita, com os recursos que temos", disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Ansião, Rui Rocha.

Pelo menos vinte e quatro pessoas morreram no incêndio que deflagrou durante a tarde de sábado no concelho de Pedrógão Grande, segundo o Governo.