Dezenas de homens homossexuais ou bissexuais foram detidos, agredidos e humilhados por polícias chechenos “num aparente esforço para os eliminar da sociedade chechena”, afirma a organização de defesa dos direitos humanos com sede em Nova Iorque.

O relatório, “‘They Have Long Arms and They Can Find Me': Anti-Gay Purge by Local Authorities in Russia’s Chechen Republic” (“‘Eles têm braços longos e podem encontrar-me': Purga anti-homossexuais das autoridades locais na república russa da Chechénia), baseia-se em entrevistas a vítimas da “campanha contra homossexuais que as autoridades policiais e de segurança da Chechénia realizaram na primavera de 2017″, segundo um comunicado da HRW.

“Os homens sujeitos a estas purgas ‘gay’ sofreram uma terrível provação na Chechénia”, disse Graeme Reid, diretor do programa dos direitos LGBT (lésbicas, ‘gays’, bissexuais e transgéneros) da HRW, citado no comunicado.

“O Kremlin tem o dever de levar à justiça os responsáveis pela violência e proteger todas as pessoas na Rússia, independentemente da sua orientação sexual”, adiantou.

A HRW considera que aquelas vítimas “continuam em risco de sofrerem danos físicos enquanto permanecerem na Rússia”, apelando por isso aos “governos estrangeiros” para lhes “darem um asilo seguro”.

O relatório da organização indica que, desde a última semana de fevereiro e até à primeira semana de abril, a polícia chechena “deteve homens que suspeitava serem homossexuais, manteve-os em locais secretos durante dias ou semanas e torturou-os, humilhou-os (…), forçando-os a dar informação sobre outros homens que poderiam ser ‘gays'”.

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“A tortura era má — sobretudo os espancamentos e os choques elétricos — muito poucos conseguiam suportá-la sem quebrar”, disse uma das vítimas à Human Rights Watch.

O relatório indica ainda que os agentes também “chamavam nomes ofensivos” aos detidos, “cuspiam-lhes na cara e encorajavam ou forçavam detidos por outras razões a fazerem troça e a abusarem deles”.

Segundo a HRW, a maioria dos homens foi depois entregue à família, “expondo a sua orientação sexual e incentivando indiretamente os familiares a realizarem ‘homicídios de honra'”.

O jornal independente russo Novaia Gazeta, que revelou o caso no final de março, disse que pelo menos duas pessoas foram assassinadas pelos seus familiares e uma terceira morreu em consequência de atos de tortura.

“Os que fugiram da Chechénia continuam em perigo noutras partes da Rússia”, assinalou a Human Rights Watch, adiantando que correm o “duplo risco de serem perseguidos pelas forças de segurança chechenas e pelos seus próprios familiares”.

Um dos detidos disse à HRW: “A minha vida está destruída. Não posso voltar. E aqui também não é seguro. Eles têm braços longos e podem encontrar-me e aos outros em qualquer lugar na Rússia, basta dar-lhes tempo”.

A organização de direitos humanos considera ainda que as autoridades chechenas tinham conhecimento da campanha, referindo que “dois responsáveis de alto nível visitaram os centros de detenção não oficiais, repreenderam os presumíveis homossexuais detidos e observaram os guardas a maltratarem-nos”.

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No passado dia 16, três organizações francesas apresentaram queixa no Tribunal Penal Internacional contra o presidente da Chechénia, Ramzan Kadyrov, por perseguições aos homossexuais na república.

Na queixa, as organizações não–governamentais de defesa dos direitos LGBT “Stop Homophobie”, “Mousse” e “Comité Idaho France” afirmam que as detenções punitivas “não são ações de grupos isolados, mas obra das autoridades chechenas, sob a direção do seu presidente, Ramzan Kadyrov”.

Segundo a HRW, “até meados de maio, não foram relatados novos sequestros, mas vários dos homens visados aparentemente continuam detidos”.

“A investigação federal da Rússia deve ser minuciosa e capaz de levar os autores a prestar contas. As autoridades devem tomar medidas especiais para proteger as vítimas, testemunhas e suas famílias”, defende a Human Rights Watch, pedindo também aos “governos estrangeiros para manterem pressão sobre Moscovo”.