Elizeu, com 30 anos, e Albertina, de 89, conheceram-se em 2016 ao abrigo do projeto Aconchego, criado em parceria entre a Câmara Municipal do Porto e a Federação Académica do Porto, e hoje, três anos depois de se separarem, mantêm uma amizade que atravessa o oceano, dado que Elizeu regressou a Luanda.
Albertina Monteiro, que tem filhos a viver noutras cidades, já tinha tido estudantes em casa, mas não a tempo inteiro.
“Queria alguém cá durante as noites e os fins de semana”, conta à Lusa, justificando a inscrição no projeto.
Para Elizeu Vunge, a dona Albertina ou vovó, como lhe chama carinhosamente, mudou completamente a sua vida e “foi a melhor decisão que poderia ter tomado”.
“Foi fundamental para a conclusão dos meus estudos [em Contabilidade e Finanças] por causa da sua experiência e conselhos”, refere, sublinhando ainda a segurança e conforto que tinha em casa.
Agora trabalhador, Elizeu foi o primeiro inquilino ao abrigo do projeto Aconchego em casa de Albertina, que adorou a experiência e, entretanto, já recebeu mais três jovens, sem esquecer nenhum deles.
Com Elizeu “ficou uma grande amizade”: ele vai ligando para saber como está e conversam sobre as suas vidas.
“É a conversa típica entre avó e neto, ela pergunta sobre os meus filhos e eu pergunto se anda a tomar a medicação e se se sente bem, especialmente agora com a covid-19, porque está no grupo dos mais vulneráveis”, explica Elizeu.
Albertina, assumida conversadora, recorda o convívio com o amigo mais novo.
“Ele contava-me a vida dele, eu contava a minha... E quando era preciso alguma coisa ele estava lá”, diz.
“Saíamos para as rotinas normais da vovó e para que ela não se sentisse presa em casa, íamos à Foz ou ao centro comercial espairecer, andar e conversar. Era uma pessoa alegre que ficou ainda mais”, recorda o ‘neto’.
Já na região Centro, Tânia, de 22 anos, e Maria, de 83, conheceram-se a partir do projeto Lado a Lado, criado pelo Centro de Acolhimento João Paulo II, em Coimbra.
O projeto entretanto ficou parado, mas Tânia e Maria continuam a viver juntas, já fora da alçada da iniciativa, há quatro anos.
“No primeiro dia em que nos conhecemos começámos logo a dar-nos bem. Até nos disseram que já nem era preciso acompanhamento, a brincar”, conta Tânia Silva, salientando que nunca se privou de fazer “o que quer que fosse”.
Para Maria Fachada, a relação entre as duas foi “sempre fácil”, até porque durante muitos anos teve duas estudantes na sua casa.
“Eu gosto muito de conviver com gente nova, muito mais do que com os da minha idade, porque sou comunicativa e as pessoas da minha idade estão sempre a queixar-se de doenças para aqui e para ali”, realça.
Dona Maria (como Tânia a trata) “não gosta de incomodar ninguém”, segundo a estudante de Direito, que nunca teve de cuidar da sua companheira.
“De manhã, vai fazer as suas compras e as suas coisas, mas sabe sempre que tem cá alguém caso precise”, sublinha, referindo que num Natal foi de Paredes, no distrito do Porto, de onde é natural, para Coimbra assim que soube que Maria tinha caído.
“É quase uma neta”, constata Maria.
De acordo com Maria Fachada, o confinamento devido à pandemia “não foi fácil”, mas a companhia da jovem ajudou “a levantar o ânimo” e a passar melhor os dias.
Com a pandemia, aquela que era já uma relação forte apenas se estreitou ainda mais, nota a estudante.
Quando a faculdade fechou em março, foi para Paredes a pensar que o confinamento não iria durar mais do que duas semanas, mas assim que percebeu que era algo “mais definitivo”, regressou para Coimbra, “porque não podia deixar a dona Maria sozinha”.
“Correu muito bem a quarentena. Eu ia às compras, depois à tarde fazíamos alguma coisa juntas, fazíamos exercício, fazíamos um bolo, íamos fazer a reciclagem juntas ou dávamos uma volta curta porque a dona Maria ficava mais em baixo por não poder sair e fomo-nos adaptando”, conta Tânia.
Esta Páscoa foi a primeira que a jovem passou longe da família, mas deixar a sua colega de casa durante o confinamento sozinha estava fora de questão: “Eu só pensava que há idosos que estão sozinhos em casa e que não tinham ninguém com quem falar”.
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