A Igreja Católica na Alemanha tem estado a percorrer, nos últimos quatro anos, o chamado Caminho Sinodal, ou seja, reuniões em que são debatidas fórmulas para superar a crise que vive a Igreja Católica, sacudida por escândalos de abusos sexuais de menores.

Nos últimos meses têm sido avançadas propostas como o fim do celibato obrigatório, o acesso das mulheres ao sacerdócio e questões sobre a homossexualidade, o que tem gerado mal-estar no Vaticano e o receio de um cisma, ou seja, uma divisão dentro da Igreja.

Agora, entre 9 e 11 março, a Conferência Episcopal alemã reuniu-se para a assembleia final do Caminho Sinodal. Desta reunião saíram oito documentos que poderão contribuir para o avançar da discussão com a Santa Sé.

O texto mais problemático diz respeito à "cerimónia de bênção para casais que se amam", uma vez que inclui uma fórmula destinada a casais homossexuais e também há referência a segundos casamentos por parte de pessoas divorciadas, o que vai contra a doutrina da Igreja Católica.

"Muitas vezes, os casais do mesmo sexo e os divorciados que voltaram a casar experienciaram a exclusão e a depreciação na nossa Igreja. A possibilidade de, publicamente, colocar a sua união sob a bênção de Deus não compensa essas experiências. Contudo, oferece à Igreja a oportunidade de mostrar apreço pelo amor e os valores que existem nessas relações e, assim, pedir perdão e tornar possível a reconciliação", pode ler-se.

O presidente da Conferência Episcopal Alemã afirmou, em novembro de 2022, que iria continuar a abençoar os casais homossexuais que o peçam, apesar de o Vaticano proibir, e descartou qualquer possibilidade de um cisma na Igreja alemã. A Santa Sé chamou a atenção, mas os bispos continuaram este caminho.

“Não podemos seguir como antes, trata-se de transmitir a mensagem do Evangelho aqui e agora, e nem sempre olhando para o passado, mesmo correndo o risco de uma Igreja ferida”, disse na altura.

Mas garantiu: “não estamos a fazer um caminho particular e não estamos a tomar decisões que não queremos para toda a Igreja universal”.

Outro tema abordado e que pode vir a causar polémica é a possibilidade de se falar de "identidade de género" dentro da Igreja. Assim, os alemães propõem que o espaço do género nos registos de batismo sejam deixados em branco ou com a referência "diverso", tal como na lei civil. Além disso, é também proposto que uma pessoa transgénero possa alterar esse campo no seu registo de batismo.

Sobre estes temas mais polémicos, é de recordar que a Igreja tem dado pequenos passos, mas em alguns ainda se mostra conservadora. Recentemente, o Papa Francisco mostrou-se disponível para rever celibato na Igreja Católica, ao afimar que "não há nenhuma contradição na possibilidade de um sacerdote casar".